Argemiro não parece nome de publicitário. Mas Argemiro é.
E dos melhores. Os colegas o chamam de Gegê. Chefiou o departamento de
criação de várias agências, hoje estacionou no cume,
ganha mais de 50 mil reais, com direito a cartão de crédito, duas
viagens de premiação em festivais na Europa ou Estados Unidos
para atualização. Cuida apenas do setor de propaganda de cerveja.
Mora muito bem defronte à Praia do Leblon em 600 m². Marido legal,
ama a esposa pediatra qualificada e se há casal integrado é aquele.
Quatro filhos. Um trabalhão.
Entre o que o destacou na profissão, após muita pesquisa e estudos
de hábitos de consumo por classe social ao longo dos últimos anos
foi o responsável por alguns dos melhores desempenhos da propaganda de
cerveja por ele coordenadas. O setor lhe deve as seguintes linhas de ação,
aliás imitada por outras agências de propaganda:
1) Orientar a propaganda para jovens porque assim, a dependência do álcool
se torna maior no tempo e é mais difícil de ser removida.
2) Associar o ato de beber álcool a cada momento de felicidade no esporte,
na paquera, no machismo, no amor ou na procura deste em mulheres sedutoras.
3) Trazer figuras públicas identificadas com saúde ou corpos esculturais,
além de cantores de prestígio e a clássica barriguinha
de chope, para associarem sua imagem consagrada e unânime ao hábito
de beber cerveja.
4) Com a Criação da Ambev o trabalho aumentou, com ele o salário
e o uso do talento de Gegê a decidir sobre a criatividade das peças.
5) E desde que se descobriu ser maior o consumo de álcool nos fins de
semana, teve a genial idéia de usar um sambista de alto talento, chegado
a uma cerveja e popularíssimo por seus méritos, a inventar mais
um dia na semana com o nome dele, para aumentar o consumo exatamente na quarta
feira. Por enquanto...
Gegê é um gênio da criatividade e da penetração
da propaganda de álcool via TV. É de autoria dele o cínico
lembrete "Beba Com Moderação". Dia desses lendo o jornal
descobriu que o Brasil possui mais de 12 milhões de alcoólatras.
A maioria jovem até os 29 anos. Passou a ter pesadelos horríveis.
E ainda por cima descobriu que bebendo escondido dele, dois de seus filhos universitários
já se tornaram dependentes não do uso mas do abuso do álcool.
Em outras palavras, estão gravemente viciados. E a esposa secretamente
providenciou uma especialista em alcoolismo. Um deles até já bateu
com o carro. Graças a Deus, o acidente por ele causado, apenas destruiu
o veículo e só se feriu superficialmente.
Argemiro está desesperado. Poderá algum leitor ou leitora ajudá-lo
a sair da cava depressão em que passou a viver?
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