Existem palavras e expressões desgastadas e infelicitadas pelo mau uso,
em todos os idiomas. Volta e meia elas ficam a rodar em minha cabeça
a pedir socorro e compreensão e busco curar-lhes as feridas e descobrir
cada vez profundidade e significados que a dita vulgarização se
especializa em minimizar.
O platônico, com sabem vem do grande filósofo grego Platão,
que acreditava haver um mundo das idéias puras das quais este mundo é
mera projeção. Daí as pessoas pensarem que amor platônico
é uma espécie de simpatia anêmica, ou de sentimento que
não pode ou não quer corporificar-se no amor pleno, entendido
aí o amor físico. E com essa errônea versão a expressão
perde força e uma das idéias mais lindas sobre o amor fica limitada,
estreita, vira sanduíche misto quente de tão popular.
Amor platônico é conceito de ampla e belíssima significação.
Pouco ou nada tem a ver com amor que não se concretiza em união
de corpos. O amor é um enigma que decorre do fato de ser um rio de muitas
vertentes, por isso o amor platônico deve ser considerado como das mais
belas, poéticas e maduras formas de amar. Possui características
de um amor de alma e que diferentemente do amor chamado físico, vive
liberto de muitas prisões. Pode porém ter tesão, nada impede.
No é isso, porém o essencial. Assim, por exemplo: o amor platônico
não exige fidelidade no sentido comum da palavra: vive da lealdade e
da irmandade. Perdoa e compreende. Exerce a misericórdia e a empatia
profunda. O amor platônico pode coexistir entre várias pessoas
sem a mais leve forma de ciúme no sentido tradicional. Ele não
exige a presença física e permanece até quando existe entre
uma pessoa viva e outra morta .E entre pessoas que nunca se viram, a não
ser de longe, na telas do cinema ou em personagens de livros ou ainda no campo
musical. Ou em pessoas conhecidas ou simples desconhecidos íntimos. Existe
acima de ser étero, homo ou bi-sexual. Nada tem a ver com essas questões
de preferências carnais. Eu posso ter amor por Brahms apenas em função
de sua música. Você, mulher, pode amar o Marlon Brando, Gerhard
Phillipe ou James Dean mesmo tendo nascido depois da morte deles.
O amor platônico pertence às formas mais lindas, livres e poéticas
de multiplicar e atender a nossa capacidade de amar. Erra quem o considera um
amor irrealizado. Nada tem de amor á distância. Esta, não
existe nem entre pessoas que nunca se vêem ou se viram. Ele se realiza
a vida inteira nesse mistério delicioso de nossa interioridade, essa
eterna virgem aberta ao amor eterno.
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