A Garganta da Serpente
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Política é briga de lobos

(Artur da Távola)

Fico a ver e a ler com sentimento de dor, as dificuldades de o País conseguir eleger uma classe política à altura do que ele já é em tantos outros campos. Pode ser que estes últimos anos venham a ser úteis para acordar o povo brasileiro da letargia política que o abate. Daí as digressões, um tanto, dispersivas e talvez confusas do artigo de hoje.

A sabedoria é a mais profunda das qualidades humanas. Pouco tem a ver com saber, cultura ou conhecimento. Há ignorantes mais sábios que eruditos arrogantes. Sabedoria é a mistura de experiência espontânea de vida com capacidade de compreender o que ocorre a si mesmo e aos homens. É controle do ego desenfreado. E tem algo de profecia mesmo que nada adivinhe. Gosta mais da intuição que da inteligência. Significa encarar a vida de frente, e, para tal, é necessário coragem. Encarada a vida de frente, o senso de realidade impõe-se por cima e além das próprias crenças, impressões, opiniões ou idéias. Ou seja: Mais realidade que verdades unilaterais. Quem não duvida da própria opinião pode ser muito inteligente, porém jamais será sábio.

Nossos ideais vêm embrulhados em nossas ilusões. Quanta vez não nos é possível discernir ideal de ilusão. Ao ocorrerem as inevitáveis desilusões, acompanha-as - vias de regra - a perda do ideal inerente. É erro comum. Ao jogar fora a água suja das nossas desilusões, com ela perdem-se alguns ideais. E quem abre mão de ideais perde força, sofre sem saber, deprime-se. Mister é que não haja qualquer ilusão a respeito da possibilidade de sermos aceitos ou vitoriosos. Grandioso é apegar-se aos ideais pelo que significam e, não, pela possibilidade de que venham a ser vencedores. Se o forem, melhor, porém o fundamental é manter viva a sua chama, dê ou não resultado. Como diz o poeta Geir Campos: "Morder o fruto amargo e não cuspir".

Política é briga de lobos, onde, além da ferocidade, esperteza é fundamental. A esperteza - porém - é forma menor da inteligência. Os que são somente espertos viverão sempre de pequenas e curtas vitórias. Os que se utilizam da esperteza para usá-la na luta, mas a subordinam a altos ideais, só estes a ultrapassam, pondo-a a serviço de causas coletivas ou patrióticas, só estes superam o trivial da política e a transformam em instrumento de liberdade, de justiça e de progresso do homem e da sociedade. A esperteza como valor isolado acaba na hipocrisia ou na corrupção.

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