Fico a ver e a ler com sentimento de dor, as dificuldades de o País conseguir
eleger uma classe política à altura do que ele já é
em tantos outros campos. Pode ser que estes últimos anos venham a ser
úteis para acordar o povo brasileiro da letargia política que
o abate. Daí as digressões, um tanto, dispersivas e talvez confusas
do artigo de hoje.
A sabedoria é a mais profunda das qualidades humanas. Pouco tem a ver
com saber, cultura ou conhecimento. Há ignorantes mais sábios
que eruditos arrogantes. Sabedoria é a mistura de experiência espontânea
de vida com capacidade de compreender o que ocorre a si mesmo e aos homens.
É controle do ego desenfreado. E tem algo de profecia mesmo que nada
adivinhe. Gosta mais da intuição que da inteligência. Significa
encarar a vida de frente, e, para tal, é necessário coragem. Encarada
a vida de frente, o senso de realidade impõe-se por cima e além
das próprias crenças, impressões, opiniões ou idéias.
Ou seja: Mais realidade que verdades unilaterais. Quem não duvida da
própria opinião pode ser muito inteligente, porém jamais
será sábio.
Nossos ideais vêm embrulhados em nossas ilusões. Quanta vez não
nos é possível discernir ideal de ilusão. Ao ocorrerem
as inevitáveis desilusões, acompanha-as - vias de regra - a perda
do ideal inerente. É erro comum. Ao jogar fora a água suja das
nossas desilusões, com ela perdem-se alguns ideais. E quem abre mão
de ideais perde força, sofre sem saber, deprime-se. Mister é que
não haja qualquer ilusão a respeito da possibilidade de sermos
aceitos ou vitoriosos. Grandioso é apegar-se aos ideais pelo que significam
e, não, pela possibilidade de que venham a ser vencedores. Se o forem,
melhor, porém o fundamental é manter viva a sua chama, dê
ou não resultado. Como diz o poeta Geir Campos: "Morder o fruto
amargo e não cuspir".
Política é briga de lobos, onde, além da ferocidade, esperteza
é fundamental. A esperteza - porém - é forma menor da inteligência.
Os que são somente espertos viverão sempre de pequenas e curtas
vitórias. Os que se utilizam da esperteza para usá-la na luta,
mas a subordinam a altos ideais, só estes a ultrapassam, pondo-a a serviço
de causas coletivas ou patrióticas, só estes superam o trivial
da política e a transformam em instrumento de liberdade, de justiça
e de progresso do homem e da sociedade. A esperteza como valor isolado acaba
na hipocrisia ou na corrupção.
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