Domingo passado, o Fantástico fez uma apetitosa reportagem sobre o
cachorro quente e suas variações. Terminou com o da cidade de
Santos, que não é cachorro quente: é um elefante calórico.
Aí me vieram à memória as paradas que já dei em
minha vida na série de barraquinhas que havia -umas cinqüenta- lá
em Marechal Hermes. E assim completo a boa reportagem do Fantástico.
Prodígio de invenção e colesterol proibido (porque delicioso),
o cachorro quente de Marechal Hermes (há tempos não passo por
lá) teve sua técnica exportada, e hoje, em qualquer festa, quermesse
ou barraca, mesmo as de outras cidades (já devorei notáveis em
Maricá e em Itaboraí), lá estão os ingredientes
deslumbrantes. Agora vejo que no Brasil inteiro, e com criativas variações.
Salsicha ou lingüiça, pão macio, molho cheiroso de tomate,
pedaços de bacon, cebola e algum pimentão, maionese, ketchup,
mostarda, azeite. E se o distinto pensa que acabou, segure lá: batata
palha, ervilha, milho, queijo ralado e há quem ofereça passas
para enfeitar e infiltrar sabor adocicado na delícia suprema. Fica tão
grande que deve ser comido pelo lado, jamais pela frente do pão... Essa
técnica espalhou-se pelo Brasil. Salve Marechal Hermes!
Para degustação da maravilha, é preciso muito guardanapo
de papel, deve-se enfrentá-lo sentado (tem cadeirinha) e sem ser esganado,
para não levar banho da maionese que, apertada, escorre pelos cantos,
mistura-se ao ketchup em colorido especial. E, se o amigo for capaz de agüentar
a ânsia de morder rápido para logo pedir o segundo, vai saborear
a maior das delícias. Invenção carioca para quem está
curto de grana e cheio de fome: um jantar!
Para ser franco, o de lingüiça supera o da salsicha, devo confessar,
encabulado por tamanha gula. Pode ser acompanhado de um refrigerante desses
gasosos. Vai saciar a fome, através da sensação de plenitude
estomacal pacificadora. Verdade que se a digestão não for das
mais eficazes, talvez se fique a "dialogar" com aquela alucinante
mistura por várias horas em eructações de certa forma saborosas
(sempre que discretas). Os gases estomacais trazem à tona o perfume já
em dissolução que tanto apeteceu antes da decisão de mergulharmos
no cachorro quente de Marechal Hermes com a mesma gana com a qual nos inebriamos
num beijo ou nos seios da mulher amada. Nesse caso ele passa a se chamar "arrotidógui"...
Enfim, com a boca lambuzada e alma feliz, não se preocupe: a moçada
vendedora nos abastece de guardanapos em profusão, e fica de longe, ar
de riso, a ver-nos fartos, deliciados quais crianças mamadas, com cara
de bobo e "bigode" de maionese. Mas felizardos portadores de mais
colesterol.
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