A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
  • aumentar a fonte
  • diminuir a fonte
  • versão para impressão
  • recomende esta página

O Rotidógui de Marechal Hermes é o melhor

(Artur da Távola)

Domingo passado, o Fantástico fez uma apetitosa reportagem sobre o cachorro quente e suas variações. Terminou com o da cidade de Santos, que não é cachorro quente: é um elefante calórico. Aí me vieram à memória as paradas que já dei em minha vida na série de barraquinhas que havia -umas cinqüenta- lá em Marechal Hermes. E assim completo a boa reportagem do Fantástico.

Prodígio de invenção e colesterol proibido (porque delicioso), o cachorro quente de Marechal Hermes (há tempos não passo por lá) teve sua técnica exportada, e hoje, em qualquer festa, quermesse ou barraca, mesmo as de outras cidades (já devorei notáveis em Maricá e em Itaboraí), lá estão os ingredientes deslumbrantes. Agora vejo que no Brasil inteiro, e com criativas variações.

Salsicha ou lingüiça, pão macio, molho cheiroso de tomate, pedaços de bacon, cebola e algum pimentão, maionese, ketchup, mostarda, azeite. E se o distinto pensa que acabou, segure lá: batata palha, ervilha, milho, queijo ralado e há quem ofereça passas para enfeitar e infiltrar sabor adocicado na delícia suprema. Fica tão grande que deve ser comido pelo lado, jamais pela frente do pão... Essa técnica espalhou-se pelo Brasil. Salve Marechal Hermes!

Para degustação da maravilha, é preciso muito guardanapo de papel, deve-se enfrentá-lo sentado (tem cadeirinha) e sem ser esganado, para não levar banho da maionese que, apertada, escorre pelos cantos, mistura-se ao ketchup em colorido especial. E, se o amigo for capaz de agüentar a ânsia de morder rápido para logo pedir o segundo, vai saborear a maior das delícias. Invenção carioca para quem está curto de grana e cheio de fome: um jantar!

Para ser franco, o de lingüiça supera o da salsicha, devo confessar, encabulado por tamanha gula. Pode ser acompanhado de um refrigerante desses gasosos. Vai saciar a fome, através da sensação de plenitude estomacal pacificadora. Verdade que se a digestão não for das mais eficazes, talvez se fique a "dialogar" com aquela alucinante mistura por várias horas em eructações de certa forma saborosas (sempre que discretas). Os gases estomacais trazem à tona o perfume já em dissolução que tanto apeteceu antes da decisão de mergulharmos no cachorro quente de Marechal Hermes com a mesma gana com a qual nos inebriamos num beijo ou nos seios da mulher amada. Nesse caso ele passa a se chamar "arrotidógui"...

Enfim, com a boca lambuzada e alma feliz, não se preocupe: a moçada vendedora nos abastece de guardanapos em profusão, e fica de longe, ar de riso, a ver-nos fartos, deliciados quais crianças mamadas, com cara de bobo e "bigode" de maionese. Mas felizardos portadores de mais colesterol.

Copyright © 1999-2020 - A Garganta da Serpente