Neste mundo atual, de poucos líderes capazes de se colocarem acima de
interesses pessoais, políticos ou nacionais, a vontade de encontrar alguém
à altura de qualquer missão moral e espiritual leva os homens
à ânsia de identificação com pessoas, idéias,
valores, símbolos da espiritualidade que mora nas religiões. Daí
a importância social e histórica da presença de líderes
espirituais, como, recentemente, o Papa Bento XVI, em diferentes países.
Não tenho saber nem cultura e nem espaço para defender aqui esta
ou aquela tese que divide a opinião em relação a idéias
do atual Papa e de outros líderes religiosos ou espirituais importantes.
Em vez, prefiro ressaltar um aspecto necessário aos dias de hoje: a humildade
de todos esses líderes. Afinal, vivemos em um mundo de onipotência
e violência, no qual o desencanto impera e a humildade está conotada
com derrota e humilhação; com ingenuidade e fraqueza.
Deste modo, impõe refletir sobre a identificação da humanidade
com a idéia de humildade transmitida por grandes líderes religiosos
Tenho a quase certeza de que é assim, porque a humildade voltou a constituir
virtude fundamental num mundo de grandezas incomensuráveis, superiores
à capacidade humana de conceber; num mundo dominado por formas disfarçadas
de soberba, que é o oposto de humildade.
A humildade é revolucionária por significar um retorno à
dimensão humana de todas as coisas, um retorno à terra, mãe
e matriz de tudo, uma absorção do húmus dessa terra, que
vivifica e faz nascer. Humildade é o retorno à condição
primeira da existência: a pequenez, o mistério, a consciência
do próprio nada diante do Universo.
Humildade, "humilitas" em latim, tem uma raiz comum: a palavra
húmus. Húmus quer dizer terra (e terra quer dizer muita coisa).
Humilitas é o que está perto da terra, encostado nela, ao nível
dela. Daí o sentido de humilhar, que também deriva de húmus
e tem a mesma raiz de humildade. Quando o homem confundiu humildade com humilhar,
tudo se pôs a perder. A etimologia não falha: raiz igual, significados
iguais, mas significantes diferentes.
De húmus também deriva umidade, que é uma condição
própria da terra, a que permite o plantio e a sementeira. Humilde é
quem está na terra, ao nível dela, compreendendo ali a condição
de mãe e nutriz da vida e de local de eterna transformação.
De húmus, vem homo, que é homem, o filho da terra, humilde por
definição, umedecido por ela para viver. De húmus deriva,
ainda, humanidade, ou seja, a natureza daquele e daquilo que vem da terra. Humildade
é, pois, muito mais que palavra ou atitude. É uma definição
de vida que tem o homem como centro, a terra como base, a transformação
como tarefa. Nela está o caminho para a fé verdadeira. E para
a Paz.
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