No capítulo de sexta feira última de Paraíso Tropical,
Tony Ramos deu um show de qualidade interpretativa: ele e a Renée de
Vielmond (tão bem-vinda em seu retorno à televisão). Fiquei
a pensar no que se passou entre aqueles personagens da trama:
O que torna difícil e eternamente enigmática a relação
amorosa, é que ela se sustenta num tripé quase nunca regular:
sensualidade, afetividade e segurança. Esses três elementos não
são estáveis ou simétricos. Até brigam entre si,
contradizem-se. Precisam equilibrar-se, o que significa o máximo de tensão,
entre os três. A contradição é a seguinte: sem esse
equilíbrio, a relação se torna difícil e com ele
é penosa e cheia de renúncias. Eu penso que se pelo menos houver
dois desses três elementos, ela se sustenta. Mas se há um só....não
dura.
· SEGURANÇA: não há lei mandando um marido ou uma
esposa serem afetivos, carinhosos, atentos, manterem fidelidade, lealdade, mas
todos os códigos puniram e punem o excesso de sensualidade que constantemente
conduz à sedução, à exacerbação dos
sentidos e até ao chamado adultério. Um mistério profundo
este que leva o homem e a mulher em estado de amor a tanto necessitarem da segurança
através da dedicação exclusiva da outra parte. Emocionalmente
ela (a segurança) não pode ser desprezada. Por mais evoluída
que a pessoa seja ou queira ser raramente ela pode ser esquecida. Nunca vi a
tal da relação aberta dar certo... Pela segurança na relação
muita infelicidade nas outras partes da relação é trocada
por continuidade tranqüila ou tempestuosa (mas continuidade) da relação.
Ela é poderosa e castradora porque independe do prazer.
· AFETIVIDADE: esta, inclui a afinidade, o sentimento dominante, condições
fundamentais do relacionamento amoroso. A afetividade está sempre presente
no lado mais carente de todos nós: o lado carência,infância,
dependência, necessitado de afeto e compreensão. É variada
e deslumbrante em seus disfarces. Ora é carinho, ora é paciência
e atenção, ora é capacidade de calar discordâncias,
ora é fingir que não vê. É o elemento que melhor
se dá com os outros dois. Mas sem a segurança se torna inócua
e sem a sensualidade se torna melosa, embora possa fazer prodígios de
resistência em uniões nas quais sensualidade e segurança
estão ameaçadas.
· SENSUALIDADE: inimiga da segurança e da afetividade, embora
só funcione a favor da relação amorosa quando entrosada
com as mesmas. É o pólo desequilibrador do tripé, embora
essencial. E aí é que está o problema. Uma contradição,
é certo. Mas de contradições são feitas as relações
humanas e amorosas. Pode dirigir-se só para a pessoa amada, mas mesmo
nesses casos (sensualidade com fidelidade) ela é por definição
inquieta, exigente, inesgotável, resiste com dificuldade a cansaços
e desencantos. No caso de não se dirigir apenas ao objeto amado exige
variedade, cede a vaidades, é carente e aceita qualquer estímulo
novo. É um dos elementos complexos e misteriosos da relação
amorosa, principalmente por que levou milênios se disfarçando para
poder sobreviver em sociedades que a condenaram, por temer seu caráter
desintegrador e, paradoxalmente pela forte dose de prazer por ela representada.
Sensualidade, afetividade, segurança. Sem esse tripé ou, repito,
pelo menos com duas das três pontas desse triângulo, não
há relação que se agüente. A não ser na hipocrisia
ou na renúncia á felicidade possível.
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