Dezembro pede passagem. Misterioso e complexo mês. Começa por
lembrar o mês dez que outubro que lembra oito. Ele é "Dez
embro" (revisão favor não juntar as duas palavras). Seu som
é lindo. Fale de modo suave: dezembro, dezembro, soa bonito, apesar do
rigor do z logo como terceira letra, em compensação "embro".
Esse R metido entre o B e o O, dá-lhe um breve choque sonoro que embeleza
a melodia da palavra.
E ainda serve para trocadilhos. Meu filho Duda Monteiro, trocadilhista irrecuperável,
diria que é um mês feliz por ser o de se "dezembrolhar"
(revisão: não corrigir) os presentes de Natal...
Ai! Mas trocadilho bom é o infame. Esses que levam os demais a urrar
de raiva. Trocadilho que não é infame não presta. Falta-lhe
travessura e engenhosidade..
Mas volto a dezembro. Será que dele gosto por haver sido a data de nascimento
de meu querido pai há quase cinqüenta partido deste mundo? Ele era
um homem triste por haver perdido uma filha, minha irmã de cinco anos.
Jamais comemorava preferia ficar no carinho da casa com minha mãe e comigo.
Emociona.
É também, principalmente nos anos de colégio o princípio
das férias, ó alegria. Até o verão era saboroso
durante a meninice, férias, depois o Natal. Hoje faz mais a alegria do
comércio que das crianças e não festeja o nascimento do
Cristo, cidadão de respeito que jamais apreciaria o consumismo desesperado
nem o capitalismo selvagem. E nisso surge, inevitavelmente o Natal dos meninos
e meninas que nada recebem, ou ganham a merreca de algo culposo vindo da caridade
alheia.
E dezembro, como janeiro, traz as transições, as alquimias da
alma, o que se esvai engolido pelo tempo e o que se gesta nas ânsias de
renovação na esperança no ser humano aflito. Por isso Janeiro
vem de Janus um deus da mitologia simbolizado por um rosto humano a olhar para
frente e para trás, a mostrar a necessidade de refletir sobre o que se
fez de bom e de mau e o que pode ser recuperado e melhorado dentro de cada um
de nós.
Agora as mangas não precisam mais de dezembro. Mas é inesquecível
porque era o mês em que começavam a madurar, deliciosas. Hoje a
tecnologia nos dá mangas praticamente o ano inteiro. E maravilhosas.
Porém não a jaca, a primorosa e esquecida jaca, a dura boa comer
crua e a mole um dos mais deliciosos doces dentre os que são a tentação
pecaminosa do diabetes. As jaqueiras ficam grávidas por julho, agosto,
vão inchando até dezembro quando estão aptas a parir a
delícia de seus gomos ou bagos, chame como quiser aquele envoltório
suave das sementes duras que se abrem para reprodução quando o
fruto madurou sem ser arrancado do tronco
Dezembro começa com vontade de acabar e neste 2006 que traga para o fundo
da terra o aluvião de corrupção e roubalheira que humilhou
o País em 2005. Estimo que não passe com pizza. Passe com exemplos
de que a impunidade comece a vicejar neste Brasil.
Bem-vindo Dezembro!
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