Vendo a repercussão da morte de Carmem Costa em televisões que
raramente a convidaram para cantar e em emissoras de rádio que não
programavam seus discos, lembrei-me de algo que deveras me comove: o artista
excluído da mídia, nunca se sabe por quais critérios. E
peço: Que jamais se iluda um artista fora da mídia. Ele é
um anjo que se tornou triste. E, sobretudo, que jamais o desiludam. É
pecado mortal dizer ou pensar: "Coitado, esse acabou e não sabe".
Jamais ser piedoso por hipocrisia: ele percebe. É necessário paciência
com suas queixas e que se busque compreender-lhe a arte.
Há dois tipos de artista fora da mídia: os muito superiores ao
que, em cada momento, domina o mercado; e os muito inferiores. Um acaba injustamente
infeliz; o outro, acaba chato. Mas o sonho de ambos é simples e santo:
existir, disseminar vivências sensíveis, ter o direito de mostrar
quem são. Exercer a sua arte.
Vítima do implacável teor seletivo do mercado e seus ávidos
especialistas, por justos ou injustos critérios, com ou sem qualidade
artística, deixa de vender discos, livros e de atrair público.
É o "apartheid" da fama.
O artista fora da mídia é alma no purgatório. Aguarda o
veredicto do Destino com o olhar cavo e machucado de certos cães. Expulso
da passarela iluminada, amarga injustiças e não entende o que
acontece e por que ficou a sobrar, esquecido. Espremido entre o orgulho de não
pedir e a dor da discriminação, divide-se entre os que se conformam,
entristecidos, e os que se fazem ressentidos e descobrem argumentos, justos
e injustos, contra os que não os chamam para atuar.
Que jamais se prometa a um artista fora da mídia o que não se
poderá fazer. Mais vale um não sincero, que um sim impossível
de ser cumprido. Jamais deve ser recebido com ar de enfado ou palavras de consolação.
Tampouco com esmolas afetivas. Ou se lhe dá trabalho, ou se lhe fale
franco. Ele é um ser de sofrida solidão e terna dependência
de reconhecimento e carinho. Uiva saudades para as luas imaginárias de
suas lembranças. É um tipo de excluído que não está
nos manuais dos direitos humanos.
Que Deus dê a todo artista fora da mídia paciência e esperança
suficientes para prosseguir. Às vezes o reconhecimento chega depois.
Até mesmo, quando já não importa.
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