Li há tempos, anotei no caderninho, mas esqueci de colocar o nome do
autor ou autora:
"Muitos pensam que contemplam o belo, mas na realidade apenas admiram o
belo em alguns momentos. A arte de admirar o belo é mais do que admiração
superficial. É preciso respirar o belo, sentir o seu sabor mais profundo.
Contemplar o belo é um bálsamo, um verdadeiro prazer de viver."
Eu concordo mas estou convencido de que o belo não esgota a beleza. Há
sempre algo mais. Daí a importância de ir além do belo como
admiração superficial. É desvendá-lo além
de sua aparência hipnotizadora. Está complicado: vou tentar de
novo, trocando a palavra belo pela palavra bonito.
Por exemplo: o que é bonito e nos provoca o prazer dos sentidos e isso
já é muito importante para o aperfeiçoamento humano. No
auge do romantismo do século dezenove , seus seguidores identificavam
o estético como caminho para o ético. Até concordo. Mas
estou convencido de que verdadeira beleza vai além do que é bonito.
E não desemboca no ético: começa nele. E nesse além,
existe algo relacionado com a verdade. Sim, a verdade, em inúmeras de
suas faces. E quando há uma verdade no seio da beleza, metade dela entendemos
e nos emocionamos e a outra metade sentimos existir, percebemos, porém
ela sempre se nos escapa logo após se revelar. Ela mora além.
A gente tem um vislumbre e ele logo desaparece. Aliás creio que assim
também é o sentimento da existência da Divindade. Daí
o conceito de re-velação
Lembro-me do rosto de Ingrid Bergmann. Bonito? Mais que isso: lindo. Mas a verdadeira
beleza daquela mulher era um mistério semi deslindável que estava
além do lindo. Nesse belo conectamos sem plena explicação
uma parte nossa que se identifica com esse além. A beleza tem uma cara
visível porém está sempre um pouco além do que a
sentimos. E a beleza pode existir também fora do (e alheia ao) que é
bonito, É necessária a verdade daquela beleza.
Desculpem vir com papo cabeça num dia de sábado: É que
desde quinta feira à noite, quando começou a chover pude sentir,
assim de repente, a beleza contida nessa pacificação da natureza
trazida pelo outono. Ela expressa nossa busca de beleza e verdade: o equilíbrio
entre o frio e o calor, ou o azul das telas de Monet. Ou o Concerto para Piano
Nº 2 de Brahms. Ou um gol. Ou a obra do Chico Buarque. Tanta coisa há
que está muito além do bonito e alcança a verdade e a beleza
Quanto maior a nossa captação da beleza oculta no que já
é bonito, lindo e prazenteiro, maior também será a nossa
felicidade.
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