Não sou judeu, sou neto de árabes, admiro a energia, a inteligência
e deploro o sofrimento, as brutalidades, preconceitos e racismos sofridos pela
mesma tribo de onde veio Jesus: a judaica. Detesto, sim, a direita israelense,
como detesto a direita em geral. E creio que a Palestina deveria ser um só
país, composto de judeus e árabes, com eleições
e convivência pacífica, como a dos países multi-raciais
e religiosos, veja-se o Brasil, por exemplo.
Situada a posição do cronista, vamos ao assunto.
Considero uma crueldade o que vem sendo feito, principalmente graças
à sua transformação em espetáculo e deboche, com
o Rabino Sobel. Um homem com o passado e o presente dele, de incontáveis
serviços prestados à democracia e ao ecumenismo religioso, merece
acatamento, compreensão e equilíbrio no noticiário. Quantos
padres, pastores, professores erram alguma vez, porque submetidos a altas tensões
decorrentes não se sabe de que quantidade de estresse, ou remédios
de efeitos cavalares. E, ainda que nada disso opere, ainda que tenha havido
um momento de fraqueza numa vida de contenções e auto-repressão,
como é a de qualquer alto dignitário religioso, sempre submetido,
anos a fio, a implacáveis disciplinas, o respeito à dor alheia
impõe contenção na tentação do maldizer.
O grande conceito trazido pelo Cristianismo é a compaixão. Esta
não é pena: é a compreensão profunda, estendida
ao próximo em seus momentos de fraqueza ou queda. A compaixão
é a irmã mais velha do perdão. Todas as religiões
a defendem e pregam por palavras diferentes. Trata-se de uma compreensão
profunda e solidária da verdade do outro, punindo a falha ou o delito,
como manda a lei, mas perdoando a pessoa que a cometeu.
A imprensa brasileira se excedeu, como sempre se excede, quando lideranças
religiosas erram. Vi dolorosos deboches e piadas na Internet. Muito pouca gente
compreendeu a dor daquele homem honrado. A ele, a extensão de nossa compaixão.
E mais: quem garante que, por trás ou por dentro do excesso de noticiário,
não se infiltra, ainda e uma vez, de modo sorrateiro, o velho e terrível
anti-semitismo causador de holocaustos vários contra um povo de alto
valor; um anti-semitismo contemporâneo, decorrente da antipatia pela política
externa da direita que há anos governa Israel.
Ao Rabino, a solidariedade, via compaixão, deste cronista de canto de
jornal.
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