A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
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O Rabino Sobel e a Compaixão

(Artur da Távola)

Não sou judeu, sou neto de árabes, admiro a energia, a inteligência e deploro o sofrimento, as brutalidades, preconceitos e racismos sofridos pela mesma tribo de onde veio Jesus: a judaica. Detesto, sim, a direita israelense, como detesto a direita em geral. E creio que a Palestina deveria ser um só país, composto de judeus e árabes, com eleições e convivência pacífica, como a dos países multi-raciais e religiosos, veja-se o Brasil, por exemplo.

Situada a posição do cronista, vamos ao assunto.

Considero uma crueldade o que vem sendo feito, principalmente graças à sua transformação em espetáculo e deboche, com o Rabino Sobel. Um homem com o passado e o presente dele, de incontáveis serviços prestados à democracia e ao ecumenismo religioso, merece acatamento, compreensão e equilíbrio no noticiário. Quantos padres, pastores, professores erram alguma vez, porque submetidos a altas tensões decorrentes não se sabe de que quantidade de estresse, ou remédios de efeitos cavalares. E, ainda que nada disso opere, ainda que tenha havido um momento de fraqueza numa vida de contenções e auto-repressão, como é a de qualquer alto dignitário religioso, sempre submetido, anos a fio, a implacáveis disciplinas, o respeito à dor alheia impõe contenção na tentação do maldizer.

O grande conceito trazido pelo Cristianismo é a compaixão. Esta não é pena: é a compreensão profunda, estendida ao próximo em seus momentos de fraqueza ou queda. A compaixão é a irmã mais velha do perdão. Todas as religiões a defendem e pregam por palavras diferentes. Trata-se de uma compreensão profunda e solidária da verdade do outro, punindo a falha ou o delito, como manda a lei, mas perdoando a pessoa que a cometeu.

A imprensa brasileira se excedeu, como sempre se excede, quando lideranças religiosas erram. Vi dolorosos deboches e piadas na Internet. Muito pouca gente compreendeu a dor daquele homem honrado. A ele, a extensão de nossa compaixão.

E mais: quem garante que, por trás ou por dentro do excesso de noticiário, não se infiltra, ainda e uma vez, de modo sorrateiro, o velho e terrível anti-semitismo causador de holocaustos vários contra um povo de alto valor; um anti-semitismo contemporâneo, decorrente da antipatia pela política externa da direita que há anos governa Israel.

Ao Rabino, a solidariedade, via compaixão, deste cronista de canto de jornal.

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