O conjunto regional nasceu da precária condição econômica
de nosso povo, juntando os mais baratos instrumentos à venda e fabricados
no País. Nas décadas de 20 e 30, os instrumentos de sopro eram
importados e caros, não havendo no Brasil tecnologia em metalurgia para
os fabricar. Por isso, a junção de instrumentos como violões
(de seis e de sete cordas), cavaquinhos e bandolins de fabricação
nacional, com alguma percussão portátil (pandeiro, eventualmente
tumbadora), às vezes a flauta (esta, com tradição desde
o início do choro como gênero) e, anos depois, o acordeão,
compuseram o conjunto harmônico apto a solos e acompanhamentos. Já
o piano não podia sair às ruas para serenatas e chorões.
Ficou nos salões com Chiquinha Gonzaga e Ernesto Nazareth, dois gigantes.
A partir da década de 30, o rádio, necessitando de acompanhamento
barato para cantores que se apresentavam ao vivo, preferiu o conjunto regional
às orquestras, salvo em produções especiais para programas
noturnos e consagrados, mesmo assim apenas nas emissoras principais. A base
do acompanhamento era o conjunto regional, composto por violões, pandeiro,
um cavaquinho ou bandolim, às vezes uma flauta. Jacob não gostava,
aliás, da expressão "regional". E brilharam Canhoto,
Rogério Guimarães, Benedito Lacerda e outros mestres..
A alta qualidade da arte de Jacob e Luperce Miranda retirou o bandolim da função
subalterna e o trouxe à condição de solista privilegiado
ou de principal instrumento de diálogo com o cantor solista. O mesmo
se deu com Waldir Azevedo, ao cavaquinho, e com Garoto, ao violão. Tudo
isso nos anos 50 do século passado.
O bandolim aparece no Brasil, trazido de Portugal, por volta de fins do século
XVIII. Um século antes, aproximadamente, já era usado, em Veneza
(onde o instrumento disseminou-se), por Vivaldi, ousado experimentador de novas
sonoridades para a sua época. Não se sabe ao certo como vem parar
no choro carioca, mas nos conjuntos dessa modalidade de música, o bandolim
aparece aos poucos. Inicialmente veio o cavaquinho, instrumento de execução
mais simples e sonoridade intensa. O bandolim, por possuir oito cordas agrupadas
de duas em duas, formando, portanto, um conjunto de quatro cordas duplas, possui
sonoridade mais doce e suave. Conforme o tratamento, porém, consegue
o beliscado buliçoso, brincalhão, irônico, capaz de ombrear-se
com seu sentido melancólico e plangente. Tal melancolia encontra limitações
na dificuldade do prolongamento das notas ao bandolim, o que não impede
grandes solistas de dele arrancarem sofrimentos e densidades. O instrumento
é difícil, mas sua fala é direta, graças à
sua base, o chamado "terno": flauta, violão e cavaquinho.
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