Alcançar o amor talvez exija mais renúncia do que alegria pura.
Nem sei se a felicidade pessoal é plenamente compatível com o
amor. Mas acho que sim, no caso de amores verdadeiros. Eles existem E crescem
enquanto parecem diminuir...Por que ligar felicidade somente ao amor? Viver
é feliz embora haja tanta infelicidade "pela" aí.
Assim como é necessária alguma crueldade para viver, assim como
há sempre alguma agressão embrulhada em qualquer vitória,
também a felicidade precisa de alguma inconseqüência. O amor
por si, quando profundo, é repleto de "trágicos deveres".
Por isso, o amor não está ligado exclusivamente a alegrias ou
prazeres. Há outros valores em sua caixa de surpresas.
O amor é um sentimento também ligado à lucidez, à
renúncia, à compreensão das contradições.
O amor é sério demais para almejar apenas a felicidade permanente.
Amar é ser capaz de viver um sentimento que se misture fundo com a vida,
muitas vezes negue-se a si mesmo por momentos ou seja corriqueiro, mal percebido,
sem grandeza, sem efeitos extraordinários, emoções particulares
ou excitantes. Mas exista, resista e insista
Aqui residem, pois, as complicações do amor. Só se torna
visível quando ameaçado de acabar. Só é verdadeiramente
dimensionado quando se supõe nada mais sentir. Está onde menos
se espera. É profundo, vital, doador, independente de exaltações.
Flui imperceptível, aparece ao sumir. Por isso,pessoas que se separam,
mesmo livres uma da outra, sentem o vazio, da perda, um sentimento de possibilidade
perdida. É preciso muito viver, muito desiludir-se, muito sentir, muito
experimentar, muito perder, muito renunciar, para encontrar o próprio
amor, guardado não se sabe em que dobra da gente, e muitas vezes nunca
descoberto.
Morrer sem descobrir o próprio amor infelizmente é freqüente
na espécie humana. E terrível! O que estamos fazendo com o amor
que está em nós e diariamente trocamos por outras e supérfluas
emoções prazenteiras, por felicidade inconseqüente, por alegrias
passageiras, por entretenimento em vez de conhecimento? Sim, o que estamos a
fazer? O quê? É melhor rapidamente você descobrir e transformar
a própria vida (e a dos demais) em um ato de amor. Só assim será
feliz: porque amor e felicidade só se unem na prática do bem,
do perdão e da compreensão. O mais é passageiro, e fugaz,
mesmo quando bota a máscara da paixão.
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