A Senadora Heloísa Helena despediu-se do Senado com enorme emoção,
e todos os jornais, rádios e televisões disseminaram pelo Brasil
o seu comovente pranto. Alguns vetustos Senadores até choraram com ela.
Convivi oito anos com Heloísa no Senado e ficamos muito amigos, apesar
de posições políticas antagônicas. Porém não
é de política que desejo falar. É da pessoa que se transformou,
com um só mandato, em figura nacional, comandante de um Partido, candidata
a Presidente da República. Tudo isso em decorrência de suas principais
virtudes: absoluta honestidade pessoal; grande intensidade interior, filha de
suas verdades. Tem a sinceridade como característica.
Incorruptível, algo de demasia injusta em suas palavras, trabalhadora
como poucos e poucas parlamentares, estudiosa do Brasil, a corporificação
da paixão pela justiça social e pelo País. Suas demasias
(ou, se preferirem, defeitos) decorrem de um vício de origem do PT: considerar-se
com o monopólio da dignidade, o que sempre coloca seus militantes na
posição supostamente superior de poder julgar os demais e as posições
políticas dos outros como necessariamente inferiores. Repetiu os cacoetes
da esquerda antiga, da qual é militante e que o tempo se encarregará
de temperar. O outro de seus erros está mais para uma injustiça:
não soube avaliar com equilíbrio o Governo FHC. Em vez de críticas,
fez-lhe injustiças pessoais, políticas e agressões destemperadas.
Agora o paradoxal: fora das diatribes da tribuna, é uma das criaturas
mais doces e meigas com quem se pode contar. Uma sentimental da melhor cepa
humana e feminina. Alegre, franca e carinhosa como poucas. Eu brincava com ela,
ao dizer que, quando subia para discursar, baixava-lhe um Exu daqueles terríveis
e que eu visualizava o momento da incorporação. Ela ria e dizia:
"Isso de Exu é coisa de vocês lá do Rio que têm
essas manias".
Heloísa é delicada pessoalmente, adorável para conversar,
leva tudo a sério, mas fica uma tarasca (como se diz na Bahia)
com pessoas sabujas e desonestas. Deu ao Brasil uma lição de coerência,
raríssima dentro da sonsice média dos comportamentos políticos.
Jamais baixou a cabeça para as tentações do poder, jamais
bajulou, jamais negou a si mesma e, na hora exata, ficou com a coerência
de sua pregação. O segmento leninista do PT expulsou-a de modo
brutal. Ela era uma ameaça para todos aqueles que quase acabaram com
o Governo Lula... Amava o Senado e o que lá fazia. Vai sofrer não
pelo poder que não busca para si, mas pela perda de instrumentos de luta.
Em compensação vai modernizar a sua visão do que é
ou deva ser a verdadeira esquerda contemporânea. E vai voltar melhor ainda,
se Deus quiser.
O Brasil lhe deve cumprimentos e gratidões. E daqui, modestamente, tento
representar todos os que a admiram. Mesmo quando discordam.
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