Presidente: não lhe falarei dos magnos problemas enfrentados com valor
pela maior empresa do Brasil, nosso orgulho, e, sim, sobre o justo slogan da
sua recente campanha publicitária: "A maior patrocinadora de cultura
do País".
É verdade: praticamente não há evento cultural importante,
além dos desportivos, no qual lá não esteja o brioso selinho
da Petrobras em verde e amarelo.
É verdade, menos em um ponto. Vou contar-lhe breve história: seu
antecessor, o ex-Senador José Eduardo Dutra, que foi o mais leal e inteligente
adversário político por mim enfrentado quando Senador e Líder
do Governo, estabeleceu, num ato de grandeza, há três anos, creio,
uma forma de ajuda da Petrobras à Casa das Palmeiras. Esta é uma
instituição de tratamento da enfermidade mental, não manicomial,
em regime de externato, criada pela internacionalmente consagrada médica
brasileira, Dra. Nise da Silveira. Considerou-a com razão uma entidade
de alto valor cultural, pois a terapia artística em certo ponto se junta
à qualidade de artes plásticas, das quais o Museu das Imagens
do Inconsciente (que fica no Hospital Pedro II, do Engenho de Dentro) é
um exemplo notável e de repercussão mundial. Valor cultural, sim,
porque psiquiátrico, antropológico, centro de pesquisas da terapia
artística e memória viva da história do tratamento de esquizofrênicos
no Brasil. Gente do mundo inteiro vem ao Rio de Janeiro para conhecer o Museu
e também a Casa das Palmeiras, da mesma forma para estagiar lá,
fazer cursos etc. Esta é uma organização de pequeno tamanho,
regime de externato, há 50 anos uma "célula tronco"
dessa experiência terapêutica não-hospitalar de casos que
a isso se prestam, hoje lei capitaneada pelo grande deputado Paulo Delgado do
PT, há uns três anos.
Pois o compromisso da Petrobras era (é), anualmente, dar um indispensável,
embora modesto auxílio a essa instituição composta de voluntários
e de clientes, sofridas pessoas, estas, em sua maioria, ademais de escassos
recursos. Assim procedeu a Petrobras nos últimos dois ou três anos.
E foi fundamental.
Neste ano de 2006, ocorreu um incêndio comprovadamente criminoso na Casa
das Palmeiras, e que a Polícia desistiu de investigar. No incêndio,
além de um patrimônio imaterial de 50 anos de trabalhos de terapia
artística, foram queimados papéis oficiais, da casa, certidões
etc. Pois, por essas razões burocráticas, a Petrobras, pelo departamento
encarregado, não libera a última parcela desta ajuda, justamente
agora que a Casa das Palmeiras mais precisa. Esses setores - citando o Departamento
Jurídico - alegam a necessidade de encaminhamento de alguns papéis
e documentos impossíveis de serem levados pela Casa das Palmeiras, porque
consumidos pelo fogo. Isso já dura seis meses de sofrimento! O ano termina.
O sim parece impossível, porém não se diz o não,
porque há o convênio de três anos em vigor. Assim, utilizo
este espaço público, para pedir-lhe uma ação no
sentido dessa liberação. A Casa das Palmeiras está aberta
a qualquer auditoria. Aguardo este ato de justiça e equanimidade de sua
parte. Tudo dentro da Lei. Se desejar saber algo a meu respeito, consulte seu
antecessor, Ex-Senador José Eduardo Dutra. Cordialmente,
Artur da Távola
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