A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
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O caos aéreo no Brasil

(Artur da Távola)

De repente, não mais que de repente, o que era tranqüilo e pacífico no Brasil transformou-se. Vamos passo a passo. Ou melhor: vôo a vôo...

1) Ocorreu o desolador acidente com o Boeing da Gol.

2) As primeiras suspeitas incidiram na provável culpa do Legacy.

3) Passadas umas duas semanas, durante as quais autoridades se contradisseram a cada entrevista, e a imprensa permaneceu perdida pela impossibilidade de afirmar o que acontecera, começaram a se infiltrar notícias com suspeitas de falhas no controle aéreo. Sumiu o assunto Legacy.

4) Naquele momento, surgiram especulações de toda natureza, e, a meu ver, opiniões especializadas de grupos de militares afins começaram a esbarrar com opiniões de outros grupos dentro da Aeronáutica. Há zonas de sombra no controle dos céus da Amazônia. Não há. Há. Não há. Há. Não há. Até hoje ninguém sabe.

5) Colocaram a ínclita e impecável figura de Waldir Pires numa espécie de roda-viva. Depois o Ministro da Defesa saiu do noticiário. Acho que preferiu calar-se. Nos intestinos do Governo, alguns conspiram contra ele.

6) Paralelamente, desde o início, o Comandante da Aeronáutica permaneceu a dizer frases prudentes, evitando efetuar afirmações carentes de comprovação. Mas outros oficiais falavam diferente.

7) Mais adiante, começaram a aparecer depoimentos anônimos de controladores de vôo. Uma voz distorcida aqui, uma reportagem secreta ali, um furo de reportagem acolá. Depoimentos de estarrecer e assustar viajores do Brasil inteiro.

8) Veio a fase de demissões em altos escalões da Aeronáutica e a abertura de uma discussão dilacerante: O controle do espaço aéreo deve ser militar, civil ou misto?

9) Entremearam-se situações sindicais, em que ficou patente para o País estar o setor gravemente enfermo e necessitado de tecnologia e de gente especializada, melhor paga. Também ficou evidente que, solução, só para daqui a muitos meses. Explode nesse ponto a então nova conseqüência, aterrorizante. O caos nos aeroportos. Seguimos imersos numa das mais graves perturbações da ordem pública. Sem sinal de solução. E sem consciência de sua gravidade.

Passamos de um dos países com alta pontuação em segurança de vôo, para um lugar no qual a população está com medo, horrorizada, desatendida, desesperada quando tem de ir ao aeroporto e insegura lá em cima. Afinal, não sabe o que encontrará. No céu, ou na terra. E agora fala-se em sabotagem...

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