De repente, não mais que de repente, o que era tranqüilo e pacífico
no Brasil transformou-se. Vamos passo a passo. Ou melhor: vôo a vôo...
1) Ocorreu o desolador acidente com o Boeing da Gol.
2) As primeiras suspeitas incidiram na provável culpa do Legacy.
3) Passadas umas duas semanas, durante as quais autoridades se contradisseram
a cada entrevista, e a imprensa permaneceu perdida pela impossibilidade de afirmar
o que acontecera, começaram a se infiltrar notícias com suspeitas
de falhas no controle aéreo. Sumiu o assunto Legacy.
4) Naquele momento, surgiram especulações de toda natureza, e,
a meu ver, opiniões especializadas de grupos de militares afins começaram
a esbarrar com opiniões de outros grupos dentro da Aeronáutica.
Há zonas de sombra no controle dos céus da Amazônia. Não
há. Há. Não há. Há. Não há.
Até hoje ninguém sabe.
5) Colocaram a ínclita e impecável figura de Waldir Pires numa
espécie de roda-viva. Depois o Ministro da Defesa saiu do noticiário.
Acho que preferiu calar-se. Nos intestinos do Governo, alguns conspiram contra
ele.
6) Paralelamente, desde o início, o Comandante da Aeronáutica
permaneceu a dizer frases prudentes, evitando efetuar afirmações
carentes de comprovação. Mas outros oficiais falavam diferente.
7) Mais adiante, começaram a aparecer depoimentos anônimos de controladores
de vôo. Uma voz distorcida aqui, uma reportagem secreta ali, um furo de
reportagem acolá. Depoimentos de estarrecer e assustar viajores do Brasil
inteiro.
8) Veio a fase de demissões em altos escalões da Aeronáutica
e a abertura de uma discussão dilacerante: O controle do espaço
aéreo deve ser militar, civil ou misto?
9) Entremearam-se situações sindicais, em que ficou patente para
o País estar o setor gravemente enfermo e necessitado de tecnologia e
de gente especializada, melhor paga. Também ficou evidente que, solução,
só para daqui a muitos meses. Explode nesse ponto a então nova
conseqüência, aterrorizante. O caos nos aeroportos. Seguimos imersos
numa das mais graves perturbações da ordem pública. Sem
sinal de solução. E sem consciência de sua gravidade.
Passamos de um dos países com alta pontuação em segurança
de vôo, para um lugar no qual a população está com
medo, horrorizada, desatendida, desesperada quando tem de ir ao aeroporto e
insegura lá em cima. Afinal, não sabe o que encontrará.
No céu, ou na terra. E agora fala-se em sabotagem...
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