Não é de hoje a exploração semi-escravagista que
os usineiros impõem a um essencial serviço e que só pode
ser feito à mão e facão: o corte da cana. É das
mais dolorosas histórias da exploração do homem e da miséria
pelo próprio homem.
O programa "Fantástico" deste domingo no quadro "Profissão
Repórter" com Caco Barcelos no comando dos estagiários e
direção de Marcel Souto Maior em reportagem de verdade (isto é,
investigativa, sem demagogia, isenta de sensacionalismo e com fatos), esfregou
na cara de milhões de brasileiros a vergonha representada, em pleno século
21, pelo que se faz com os cortadores de cana. O setor da cana de açúcar
é dos mais rentáveis e o será cada vez mais, e as usinas
continuam a tratar os trabalhadores manuais (como se isso fosse tarefa menor
ou para escravos) com métodos quase medievais.
A reportagem registrou a tarefa com 7 meses de distância entre uma e outra
abordagem televisual e colocou dois repórteres corajosos como cortadores
de cana, um homem e uma mulher. O resultado é de estarrecer: cada campônio
corta a média de sete toneladas de cana por dia! Houve tanto no ano passado
como neste, 4 mortes (total 8) por exaustão! E segundo o texto, a morte
não é considerada acidente de trabalho pelas empresas usineiras!
Morreu danou-se... Uma das mulheres falecidas, Dona Maria Neusa Borges morreu
com 25 quilos abaixo de seu peso normal. Uma vergonha!
Um erro apenas na matéria, aliás comum a todas as reportagens
de TV tipo flagrantes: estas quase nunca dão o nome das empresas. Isso
acontece também na reportagens em que a Polícia Federal dá
injusta exclusividade à Globo: aparece o nome dos ladravazes e não
dão os nomes dos corruptores. Se fala de alguém em hospital não
dão - via de regra - o nome do mesmo. Se se trata de algo com restaurante
também omitem o nome do mesmo. E isto se dá tanto quando a matéria
é positiva como quando é negativa. Estas são razões
ideológico-empresariais que a televisão já tem independência
e autonomia para superar, porém não o faz. Minha outra dúvida
não procede, eu mesmo acho: é se matéria com tal conteúdo
humanista não se dilui no meio de tantas atrações levinhas
e feitas para agradar como o Fantástico. Mas ainda assim, a denúncia
deste programa deveria levar os homens do Governo que se diz de esquerda a uma
outra política (a meu ver a cooperativista) com o ganancioso porque indispensável
oligopólio que é o setor alcooleiro. Somente uma reorganização
cooperativista acabaria com estas vergonhas.
De parabéns o Fantástico.
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