Suicídio é algo que me aterra. Como a morte de filho antes dos
pais, representa a destruição do milagre maior: a vida. Muitos
orientais o consideram honra e heroísmo. Mas sou ocidental. O máximo
é compreender causas psicológicas irremovíveis como as
chamadas depressões profundas sejam perceptíveis ou sub-reptícias.
Ou as heróicas.
O Brasil não prestou atenção no fato gravíssimo
representado pelo suicídio do ambientalista Francisco Anselmo de Barros,
o "Franselmo" ateando-se fogo, envolto em colchão encharcado
de álcool como protesto pela construção de quinze usinas
de álcool e açúcar no Pantanal Mato-grossense.
Ainda bem que esta grande figura (fui Senador com ela e posso atestar) que é
a Ministra Marina Silva, com a firmeza de sua mansidão, no dia 15 de
novembro anunciou a proibição da construção desejada
pelo Governador Zeca, do seu partido, das mencionadas quinze usinas de álcool
e açúcar.
O que está no centro dessa questão é se vamos sucumbir
à ditadura da economia e continuar a destruir a natureza como se fez
e faz de modo violento e criminoso na Amazônia, na Mata Atlântica,
nas queimadas propositais de florestas, nos manguezais, na exportação
ilegal de animais, ou se o País vai ser implacável na busca do
desenvolvimento humanizado e construído para o ser humano e o povo e
não para meia dúzia de poderosos ricaços oportunistas e
desumanizados pela ambição. Há mil e uma maneiras de crescer
sem destruir e mesmo de criar empregos em atividades de preservação
e de agricultura, inclusive. Fico a imaginar a solidão da ministra Marina
Silva, diante de tudo o que a inconseqüência brasileira faz em sua
área.
Em 1972, o poeta japonês Yasunari Kawabata, Prêmio Nobel de Literatura
de 1968 e grande escritor, suicidou-se, fortemente deprimido (entre outros males
de seus 72 anos), por constatar que o novo Japão após a Segunda
Guerra Mundial, optara por um desenvolvimento capitalista implacável,
que arrebentaria a tradicional cultura da sutileza, da delicadeza, da elevação
espiritual do passado japonês destruído desde que o país
invadira A China de modo brutal e assassino anos antes. Não suportou
viver fora de uma sociedade sensível e espiritualizada que via esboroar-se
diante dele em nome do progresso econômico a qualquer preço. Por
mais que o suicídio jamais me pareça solução para
qualquer mal da sociedade, considero, para o futuro do Brasil, o gesto do Francelmo
de igual significado ao de Kawabata: lamentável e doloroso. Mas heróico.
Os ambientalistas também são poetas panteístas. Escrevem
seu amor à natureza ajudando a preservá-la. Por amor à
vida.
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