A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
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Roberto Moura

(Artur da Távola)

Quis o destino que eu escrevesse sobre Roberto Moura na véspera do dia de Finados. Como quis o destino que algo de dupla face acontecesse em torno de sua morte. No primeiro caso até para morrer ele cumpriu o destino de servir à população. Um alerta geral sobre os perigos do chamado carrapato, graças a ser ele uma pessoa conhecida e respeitada, um alerta geral, eu dizia, fez-se para milhares de pessoas. No segundo caso, falou-se mais no carrapato do que na obra de Roberto Moura. Quero corrigir essa injustiça.

Roberto Moura foi muito importante para a música do Brasil. Muito. Ele era de um primeiro time no qual jogam e jogaram Sérgio Cabral(pai); Tárik de Souza; Adelzon Alves; João Máximo; Hermínio Bello de Carvalho; Nei Lopes; Osmar Frazão; Ricardo Cravo Albim; aquele Luís Fernando grandão; Nelson Motta (como escritor); João Carlos Carino; Caetano Veloso ( como escritor). Quando falo como escritor não estou a negar-lhes as evidentes virtudes de compositor. É que falo em gente que estuda e entende de música popular e escreve a respeito, como, ainda, o Roberto Dugo; o Zuza Homem de Mello; o Carlos Callado; o maestro Júlio Medaglia; Paulo Cesar de Andrade; Carlos Didier; Pedro Alexandre Gomes, Marcelo Guima; Marcelo Câmara; Pedro Amaral; Hiram Araújo; Bruno Gomes; José Carlos Rego, Rui Castro; Mozart de Araujo; Vasco Mariz; Lúcio Rangel; Norma Hauer; Jonas Vieira; Arlindo Coutinho (este sabe muito, porém nunca escreveu, o dispersivo); Gumercindo Saraiva; Jorge Roberto Martins; Letícia Vianna (livro primoroso sobre Bezerra da Silva); Heber Fonseca. E recentemente perdemos o talento precoce e jovem do Fernando Toledo. E vários outros a quem peço desculpas pela omissão momentânea.

Roberto era um espadachim. Tinha até o físico de um. Escreveu livros, artigos aos milhares, fez programas ótimos na TV-E. Analisava, sim. Conhecia. Estudava muito. Ia aos lugares, freqüentava as mais diferentes tribos musicais. Dava aulas em universidade. E ainda tinha a gentileza de mandar para este inseguro cronista, e por certo para muitos o seu artigo das segundas feiras. Hauríamos do seu saber, estilo, clareza de idéias a ordem direta, a sua militância mais que nacionalista, brtasileira, e corajosa tomada de posição em questões de música popular e cultura. Mais que analista (e era dos bons), fazia-se, como disse acima, espadachim de muitas das melhores teses de defesa da música brasileira. Um craque. Um Don Quixote, ademais tricolor e de presença sempre agradável e apressada. Lembro com tristeza das palavras singelas e comoventes da mulher dele a nos avisar de sua partida por e-mail. Está com Deus, tenho a certeza. Cumpriu a sua missão com dignidade exemplar. E talento.

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