A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
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Ainda o sim e o não

(Artur da Távola)

O verdadeiro sentido da palavra equívoco, não é "erro". A palavra deriva de "aequivocu", isto é, "aequi" que quer dizer concomitante, ao mesmo tempo e vocu que vem de vozes. Equívoco, é, portanto, chamados (vozes) a emitir, ao mesmo tempo, significações, apelos e atropelos contraditórios ou opostos. Assim acontece na comunicação (e na vida) contemporânea. Os apelos e as chamadas nos chegam em forma de bombardeio simultâneo. Ocorre a simultaneidade de vozes ora contraditórias, ora antagônicas, ora perturbadoras, ora sedutoras, ora convincentes, ora "vendedoras". Se o fenômeno é comum ao bombardeio comunicativo diário, aumenta em casos de guerra ou de crise política, ou campanhas eleitorais ou referendos como estamos a viver agora nessa confusão entre o sim e o não como voto para o domingo que vem.

Pessoalmente não estou confuso e por fortes razões éticas, votarei no SIM, porém o grande público está desorientado e a defesa de cada lado em rádio e TV, caracteriza uma típica comunicação do equívoco. Isto é, há argumentos poderosos e válidos de ambos os lados, misturados a argumentos falaciosos. O público acaba por repetir e estender a linguagem da comunicação equívoca e ela, então, cresce, se amplia, espalha-se, ganha ainda mais conotações, vícios, cacoetes, distorções, ecos. Dá-se uma repercussão difusa, errática, superficial, necessariamente enganosa, mesmo sem querer.

O fenômeno gera alto índice de engano e confusão, como a meu ver a que deriva da propaganda do Não.Vai ganhar uma das propagandas e, não uma das idéias. O mesmo ocorreu quando do plebiscito sobre presidencialismo ou parlamentarismo, lembram-se? Uma pergunta maldosa e repleta de sofismas da propaganda do presidencialismo matou o parlamentarismo. E o presidencialismo é isto que está aí e assistimos estarrecidos...

Em síntese: com base em fato real, em pedaços de fato, em verdade parcial ou meia verdade, a comunicação do equívoco pode se disseminar numa sociedade inteira. Então, o que é um pedaço, um ângulo ou face do real supera a própria realidade E a partir daí surge um problema ético: a informação, quando tratada por marqueteiros deixa de ser processada como informação para o ser como estratégia . Taí a eleição do Lulinha paz e amor que o País inteiro hoje percebe que foi muito mais Duda (Mendonça) Lá, do que Lula lá....

Por causa da comunicação do equivoco, passada como propaganda e não como informação precisa, temo, deveras pelo resultado que pode vir a ser trágico, no caso do referendo de domingo. Principalmente se ganhar o não. Se já está difícil sendo como é hoje em dia, o que não será com o País todo armado?...

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