Logicamente auto perdão, não é o fato de perdoarmos nosso
automóvel sobre alguma falha ocorrida, quando eventualmente nos deixou
na mão numa noite chuvosa em uma estrada deserta. Na verdade, trata-se
do fato de sermos capazes de nos perdoarmos por falhas que nós mesmos cometemos.
Sempre será complicado para qualquer pessoa, perdoar-se, pois o auto perdão
é bem complicado. Muitas vezes, tomando conhecimento da extensão
de nosso erro, ao vermos que a besteira cometida prejudicou outras pessoas, ou
mesmo simplesmente atrapalhou a nossa vida, provocando alguns danos irreparáveis,
vem aquele arrependimento. Vem aquele triste pensamento, o tradicional: Por
que não pensei antes? .
Muitas vezes isso ocorre após o infeliz bovídeo estar atolado no
charco até os chifres, e o mal não ter conserto. A dor do remorso
é triste. E se a pessoa não conseguir "perdoar-se", não
conseguirá mais viver em paz, embora venha a obter o perdão alheio.
Muitas vezes, encontramos justificativas para nossos erros. Mas se as consequências
foram por demais sérias, dificilmente teremos paz de espírito. Uma
justificativa, um perdão, nem sempre consertam a erro cometido.
Claro que isso nem sempre ocorre, todos conhecem diversos casos de erros, ou melhor,
de sacanagens que lesaram muitas pessoas e até mesmo tiraram muitas vidas,
e os culpados não estão nem aí para os prejuízos provocados.
Casos como dos dois Edifício Palace, por exemplo. O responsável
pelas barbaridades cometidas ainda acha que está sendo injustiçado.
Mas isso ocorre quando se trata de pessoas absolutamente sem o menor resquício
de consciência, que não dão a menor importância à
vida de seus semelhantes.
Felizmente nem todo mundo é assim... Ainda existem pessoas afetadas pelo
remorso.
E, tenham certeza de que não é fácil conviver com ele. É
muito mais fácil perdoar aos outros, do que nos perdoarmos. Ainda mais
que sempre fica aquela tentativa de justificar um erro, acusando-se outra pessoa.
No íntimo, reconhecemos nossa culpa, mas externamente tentamos disfarçar.
E isso atrapalha e muito o auto perdão. Há que se notar que não
apenas cometemos ligeiros lapsos. Os outros é que cometem falhas grosseiras.
Temos que reconhecer nossa falibilidade. É meio caminho para aceitar o
erro cometido, e tentarmos "nos perdoar".
Ainda sobre o tema, li um pensamento atribuído a William Shakespeare, muito
interessante:
"Guardar ressentimento é como tomar veneno e esperar que a outra pessoa
morra".
Esse é outro ponto a ser abordado. A enorme dificuldade que encontramos
em perdoar outras pessoas. Muitas vezes ficamos com a "coisa" nos remoendo,
envenenando nossos pensamentos, arquitetando vinganças, imaginando o que
fazer para "dar o troco".
Acontece que por causa disso, muitas vezes nos esquecemos de viver.
Por maior que tenha sido o dano sofrido, uma vingança não irá
desmanchar o mal já sofrido. Se o crime contra nós cometido for
passível de punição pela justiça, é mais conveniente
esperar que isso ocorra.
É claro que existem coisas que nos ferem tão fundamente que a ira
acaba por nos cegar.
Dependendo do momento, uma reação por vezes violenta chega a ser
normal.
O desaconselhável é ficar guardando o ressentimento durante muito
tempo, pois isso acabará nos envenenando a existência.
Enfim, cada caso é um caso, e cada qual sabe onde lhe aperta o calo. Penso
apenas, que devemos procurar viver em paz, inicialmente conosco mesmo, e, isso
conseguido, procurar transmitir essa paz para os que nos cercam. Claro que não
é fácil. Se fosse, não estaria aqui escrevendo sobre isso.
Agradeço, então, aos empedernidos e renitentes safados, bem como
aos vingadores, por me terem propiciado um excelente tema para debate.