Desde minha mais tenra idade, sempre sonhei com aventuras mirabolantes.
Imaginava-me, ora sendo um Tarzan, vivendo na selva, entre as feras... ora,
sendo um Flash Gordon, vivendo num futuro longínquo (para mim, na época...)...
ora sendo um Roy Rogers, matando todos os bandidos no velho oeste.
Sempre tive um espírito muito inquieto... muito aventureiro. Na época
não era possível viajar-se como hoje... com uma mochila nas costas
e nada no bolso. Creio ter nascido em época errada, pois, para levar
uma vida de aventuras, como eu sonhava, era preciso ser rico. Não havia
as mesmas facilidades de hoje. Meios de transporte escassos. E ainda sempre
era necessária a autorização dos pais, até para
ir até a esquina.
Deliciava-me com todos os filmes que mostravam a áfrica misteriosa e
longínqua. Sabia, contudo, que eram apenas sonhos irrealizáveis...
mas os tinha, e ficaram mantidos no subconsciente.
A vida em si, ia confirmando a realidade que já vira. E comecei a esquecer
dos sonhos, empenhado que estava em cumprir com minhas obrigações
de chefe de família, com esposa e filhos para cuidar e sustentar. Os
sonhos, então, foram arquivados. O máximo que me permitia em termos
de viagem, eram pequenas incursões a Santos.
Minha mãe fizera uma previsão para mim, segundo a qual iria fazer
uma grande viagem.
Quando mudamos de São Paulo para Santos, disse a ela em tom de gozação,
que ela estava certa. Seria essa minha grande viagem. Mal sabia o quão
exatas foram as previsões que ela fizera...
Com todas as dificuldades que poderia encontrar, até que gostava da
vida que levava na então pacata Santos.
Mas, nessas brincadeiras do destino, algo aconteceu que faria mudar tudo, e
que possibilitaria a realização do velho sonho. Mudou-se para
uma casa vizinha da nossa, uma família de portugueses, os Paiva, que
havia fugido do Congo Belga, por causa das lutas pela independência daquele
País, em 1961.
O fato deles terem vindo da áfrica, fez com que nossa amizade crescesse,
pois eram intermináveis nossos papos sobre a vida no Congo, tão
misterioso para mim, e que me despertava enorme curiosidade.
Ora... com a normalização da vida no Congo, os Paiva resolveram
voltar para lá, pois já havia condições de vida
novamente. Ficou acesa a luzinha interior... e o sonho começou a ressurgir...
Na época, em 1969, a situação geral do Brasil não
estava muito boa, e a minha situação pessoal, pior ainda. Recebi
uma carta do amigo Manuel Paiva, contando que tudo estava em paz por lá,
e que, devido ao êxodo da mão de obra qualificada quando das revoltas,
seria fácil para mim obter boa colocação lá, e com
boas vantagens. Boas vantagens? Bons ganhos? Possibilidade de independência
financeira? Ainda mais a áfrica velha de guerra? Objeto de meus sonhos
infantis?
Conversei longamente com Neyde, minha esposa, sobre essa aventura. Tão
insana quanto eu, ela "topou a parada". Decidimos mandar tudo para
o espaço, e, contrariando a opinião de ambas as famílias
e também de todos nossos conhecidos, resolvemos vender tudo que tínhamos
aqui, e embarcar nessa "loucura maluca" (assim a chamavam todos...).
Afinal, partir para o desconhecido, com duas crianças pequenas... poderia
ser encarado como??? Teria que viajar sozinho, deixando a família aqui,
pois precisaria sondar o terreno no Congo, para saber se o que Paiva dissera
era verdade.
Pronto... o sonho em vias de ser realizado... Sequer me atrevia a pensar sobre
o assunto, caso contrário voltaria atrás em minha decisão,
tantos eram os problemas que todos me apontavam. Não tinha o menor conhecimento
de como eram as coisas lá. Tinha conhecimentos apenas rudimentares do
francês. Sequer sabia o que iria fazer lá.
Só sabia que ia. O que realmente me animava, era o velho espírito
aventureiro que ressurgira com força total, e aquele velho sonho de conhecer
a áfrica de meus ídolos, Tarzan, Fantasma, Nyoka.
Já me imaginava enfrentando leões, elefantes, hipopótamos,
e mal sabia que isso ocorreria realmente... que os veria muito de perto, que
sentiria o cheiro dos bichinhos bem diante de mim.
Chegou o dia do embarque... Despedi-me da família... Como minha irmã
Gloria pediu, fiz a lista de "minhas últimas vontades", pois
poderia encontrar antropófagos por lá. E os iria encontrar mesmo.
Enfim... meu velho sonho de infância iria se realizar. Ao entrar no avião,
olhei para minha esposa, que ainda conseguia segurar as lágrimas, e disse:
AFRICA, Lá VOU EU. PREPARE-SE.
Bem... o que passei em 3 anos que vivi curtindo meu sonho infantil, estou contando
nas AVENTURAS NA AFRICA, por enquanto sendo publicadas em capítulos,
mas pretendo, ao seu término, transformar em livro, realizando assim
outro velho sonho, ou seja, escrever um livro... Conseguirei?