A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
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Para bem viver a vida

(Marcial Salaverry)

Uma das maiores verdades que já foram ditas, mas que nem todos levam a sério, pelas mais variadas razões, é quando se diz que a vida deve ser vivida enquanto vivos estivermos.

Parece uma bobagem, pois se estamos vivos, é porque estamos vivendo a vida.

Acontece que existe uma diferença entre viver a vida, e passar pela vida.

Viver a vida, é procurar tirar dela o maior proveito possível, procurar realizar os sonhos que tivermos, por mais loucos que pareçam ser. Claro que nem todos poderão ser realizados, mas o simples fato de tentarmos realizá-los, já tem suas compensações, pois algo estaremos fazendo para "viver a vida". Uma vida sem sonhos, sem objetivos, acaba sendo uma vida sem graça.

Passar pela vida, é simplesmente aceitar tudo o que ela nos oferece, sem nada procurar fazer para melhorá-la. Sem nada fazer para dar algum sentido a nossa existência, sem buscar algumas emoções, sem sentir que por algum motivo estamos aqui. Sem, enfim, ter algo porque continuar vivendo.

Recebi um e-mail de uma amiga, que prefere não ser identificada, razão pela qual vou fazer pequenas alterações que possam identificá-la, apenas para mostrar, como exemplo de conformismo, que, penso deve ser evitado por quem ainda está em tempo de "acordar para a vida":

Eu vivo de recordações. Meu presente não é tumultuado porque meu marido é uma pessoa boa, mas é sem graça, insosso. Passei a vida inteira a ver navios. Olhar pela janela sem saber o que fazer da vida, esperando o tempo passar e meu dia chegar. É uma vida sem graça, que vem e que passa. Quando surge uma música que me recorda namorados antigos, fico sensível, e com vontade que o tempo volte e eu possa viver aqueles momentos de novo. Sou um satélite voando no espaço. Não tenho mais sonhos e nem prazer. Vou fazer 39 anos de casada e nunca tive uma noite de amor. Incrível né??? Mas... a vida passou e eu deixei que acontecesse.

Bem, o fato se explica por si só. O grito de alerta está dado. Em casos assim, quando um dos parceiros é excessivamente passivo, o que se pode fazer é tentar um diálogo, tentar fazer com que o parceiro desperte. Dar-lhe um chacoalhão para que ele acorde, procurar mostrar que a vida é muito preciosa para ser desperdiçada. Que a vida precisa ser vivida, com alguma intensidade, com algumas emoções. Que precisamos desfrutar de nossa passagem por aqui. Que precisamos ser ativos, não podemos simplesmente nos sentar e esperar as coisas acontecerem. Precisamos correr um pouco atrás daquilo que queremos, atrás de algum sonho. É importante termos algum objetivo. Sonhos para, pelo menos tentar realizar.

E se não somos sozinhos, se vivemos com alguém, não podemos nos esquecer de que a vida é uma eterna parceria. Que não podemos simplesmente nos ater àquilo que desejamos para nós. É importante procurar saber das necessidades e sonhos de nossa parceria para, em conjunto, darmos sentido à expressão "Parceiros" , significando ser uma vida em conjunto, para ser vivida a dois. Os sonhos, os objetivos, devem ser conjuntos. Se forem conflitantes, deve-se estudar um acordo. É contraproducente que apenas a vontade de um dos parceiros prevaleça, para evitar que com o correr do tempo, um dos lados fique carregando a frustração de nossa amiga em questão, que apenas está passando pela vida, sem vivê-la em sua plenitude.

Vamos conversar mais, crianças, vamos procurar equacionar nossos sonhos. Vamos aparar arestas. Vamos dialogar sem ressentimentos, apenas expondo pontos de vista, apenas acertando divergências, ao invés de deixá-las crescendo até que o rompimento seja inevitável. Vamos, pelo menos, dar uma chance à vida para que ela aconteça.

Quantas vezes um "aparar de arestas" transforma um possível rompimento, numa linda reconciliação, num maravilhoso renascer para a vida, num reencontro que trará aquela felicidade sempre almejada, e que julgávamos estar perdida.

Mesmo para esta nossa amiga... Tente uma vez mais seduzir seu marido... Quem sabe ele acorda... Poderia ser mais prático dar o cínico conselho de procurar sua noite de amor fora... Mas isso seria muito cruel para consigo mesma, e não é por aí. É difícil falar sobre casos assim, principalmente nesta altura da vida. É muito fácil dizer alguma bobagem, e muito perigoso também.

Cada qual sabe de sua vida, e o que pode ou não ser feito ainda para modificar alguma situação existente, a qual aceitamos e deixamos crescer. Parece mesmo que o melhor é deixar o barco correr, ficando apenas nos sonhos irrealizados, aceitando uma realidade que, pelo menos nos permite viver.

Quem ainda está em tempo, pode, se quiser, aceitar a sugestão… E quem não está mais em tempo, deve ao menos fazer como nossa amiga, que pelo menos tem algumas recordações, tem ainda alguns sonhos, ainda pode fechar os olhos e viajar nessas lembranças, quiçá doces, quiçá amargas. Procure ao menos, ser feliz, minha querida... Você merece.

Com sonhos, com pesadelos, volto a parafrasear o saudoso Gonzaguinha, pois "a vida, é bonita, é bonita, e é bonita..." Vamos vivê-la, sempre procurando ter UM LINDO DIA.

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