A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
  • aumentar a fonte
  • diminuir a fonte
  • versão para impressão
  • recomende esta página

Afinidades

(Marcial Salaverry)

Muitas vezes perguntam o que vem a ser "Afinidades".

Afinidade é um sentimento de difícil explicação. Vamos tentar chegar a algum lugar.

Coisas curiosas às vezes acontecem conosco. Vocês já notaram que, com muita freqüência conhecemos pessoas que nos despertam de imediato uma grande simpatia e, por vezes uma grande antipatia ? Perguntamo-nos o porque disso. Sim, não deixa de ser estranho tal fato.

O normal seria simplesmente aguardar os acontecimentos para saber se essa pessoa, por suas atitudes futuras pode ou não merecer nossa amizade. Mas...à primeira vista ?

Puxem pela memória e vejam quantas vezes vocês já tiveram essa experiência. Aquela sensação de, à primeira vista, pensar que determinada pessoa pode ou não ser uma pessoa confiável, de quem nós iremos gostar, ou não.

Algumas vezes essa primeira impressão pode ser errônea, mas é a que prevalece até que tenhamos provas em contrário.

Isto é que é a tal da Afinidade. Vamos tentar defini-la.

Pode não ser o mais brilhante, pois algumas vezes nos leva a julgamentos errados mas é o mais sutil, delicado e penetrante dos sentimentos.

Não importa o tempo, a ausência, a distância, pois, em caso de afastamento, qualquer reencontro retoma a relação, o diálogo, a conversa, o afeto, no exato ponto onde foi interrompido. Parece, na verdade, não ter o sentido do tempo. Chega-se a "sentir" a presença de pessoas "afínicas".

Quando existe essa afinidade na verdade, é porque ela já existia antes mesmo do conhecimento, e permanece ainda que as pessoas se afastem. É o caso daquelas "presenças ausentes", pois mesmo que os amigos estejam longe ou afastados, sempre são lembrados.

Quem não tem aquela amizade inesquecível? Aquela pessoa que mesmo longe, sempre é lembrada com saudade, devido à grande identidade de pensamentos, idéias, sentimentos. Mesmo longe, sentimos a presença ao nosso lado.

Sentimos simplesmente. Nem contra, nem a favor, muito pelo contrário. Sentimos a presença, sem ter necessidade de explicar o que estamos sentindo. É olhar e perceber.

Sem dúvida, é um sentimento singular, discreto e independente. A presença pode ser detectada a quilômetros de distância, mas é percebida pela maneira de falar, de escrever, de andar, de respirar... Enfim... Está sem estar.

Quando existe uma afinidade, a relação é retomada no tempo em que parou, pois ela é atemporal. A amizade pode ser destruída por muitas coisas, muitas mágoas, mas a afinidade a tudo resiste. As pessoas sentem esse sentimento, porque ele existe, e não buscam explicações. É uma espécie de bem querer inexplicável.

Procuramos motivos para sermos amigos de alguém, e o primeiro dos quais, é se existe alguma afinidade. Então, para haver Amizade, é preciso que haja Afinidade.

Para que possamos amar alguém, então ela é imprescindível... Não podemos amar ninguém com quem não tenhamos sentimentos "afínicos" (favor avisar o Aurélio... pode incluir). No caso do Amor, então, além da Afinidade, também há que existir a Amizade.

Em casos de separação prolongada, o amor pode desaparecer, amizades podem ser esquecidas, mas se existir Afinidade, o esquecimento não existe, porque para sua subsistência, basta a vida. A qualquer momento que se dê o reencontro, ele será gratificante, porque, tanto o tempo quanto a separação, na verdade nunca existiram. Foi apenas a oportunidade dada pelo tempo para que a maturação pudesse ocorrer e que cada pessoa pudesse sentir cada vez mais que realmente são "afínicas".

Resumindo tudo, Afinidade vem a ser a presença do ausente. Mesmo que não estejamos perto, assim nos sentimos, pois nossos sentimentos comungam, nossas idéias "batem", nossos pensamentos, enfim, são "Afínicos". Reside aí o princípio, meio e fim de lindas amizades. Para reafirmar nossas afinidades, desejo a todos um LINDO DIA.

Copyright © 1999-2020 - A Garganta da Serpente