A Garganta da Serpente
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A Crítica, o Gosto e as Escolhas

(Ygor Moretti Fiorante)

Crítica; 1 arte de julgar obras artísticas ou literárias. 2 Exame minucioso. 3 Julgamento hostil.

Eis as possibilidades do que se pode fazer, e do caminho que se pode percorrer ao analisar obras artísticas ou literárias.

Talvez pelo mal uso, ou uso repetitivo para designar um mesmo sentido, tanto a crítica quanto o crítico, passaram a ser vistos com maus olhos, ou que estes usaram de maus olhos, mau juízo para fazer sua analise, uma tentativa com o único objetivo de destruir a obra.

Tão mal não seria se este falso significado fosse interpretado somente pelos leitores e o público em geral. O que acontece, porém é que, talvez por comodismo, pois é bem mais fácil criticar do que criar, o próprio crítico, o crítico de profissão, que por sua vez é o único tipo, pois ninguém é crítico por convicção, ou inspiração, adotou para si o significado mais tendencioso que se pode entender como crítica.

Desde então o crítico, o sujeito de profissão, passou a ser o chato da história, o estraga prazeres, e em sua grande maioria, provando a falta de criatividade, encarnando o lúgubre do-contra.

Dizem outros mitos a respeito desta mitológica criatura, que todo crítico é um artista frustrado, poeta, cineasta, nesta última categoria onde mais se encontra o crítico em sua essência mais límpida. Por esta frustração, de não ter sido um artista reconhecido pela "crítica", ele se tornou um sujeito rancoroso, que procura o calcanhar de Aquiles daquilo que critica, o erro, a falha. Em sua maioria, conseguem reconhecer algum ponto positivo, mas quando isso acontece, no texto, em sua plástica, fica ao leitor aquela sensação de em cima do muro, ou do texto que não acrescenta, se bem, verdade seja dita, "ficar" encima do muro, como veremos mais adiante, em assuntos de gosto, pode ser normal e até aceitável.

A profissão "crítico" não tem valor fundamental para as artes, e não auxilia em nada em sua continuação, mas é necessário, os olhos, a opinião crítica sobre todos os assuntos, mantendo no entanto, um significado, um objetivo e a vontade de ANALISAR; 1 Decompor um todo em suas partes ou componentes. 2 Examinar minuciosamente.

O que incomoda e dá vazão a crítica ao crítico, é sua escolha de assuntos, os temas específicos, certo filme ou livro etc. Já que se vai falar algo, escrever, desenvolver idéias, por que não desenvolver idéias sobre um trabalho que se tem admiração, que surpreendeu, que é interessante, enfim bom. Trata-se então de uma crítica divulgadora, que aproxime o leitor do mundo das artes, e não monopolize a informação. O papel da crítica é informar, criar interesse, explicar o porque um quadro de Picasso, é considerado uma obra-prima, e o próprio Picasso um dos grandes artistas, ou uma das possíveis mensagens do último filme daquele diretor Europeu.

Não deve existir a vontade e a pretensão de educar, formar ou encaminhar o público, mas ao contrário, deixar também que este quebre a cara, arrisque, arrisque por exemplo ir ao cinema ver um filme ao qual o título lhe chamou a atenção, ou arrisque seguir a opinião de certo crítico. Bem mais vantajoso seria incentivar a ida a uma peça de teatro, do que dar mil motivos para manter distância do teatro onde a tal peça está sendo exibida.

Somente aquilo que é bom, que agradou é que deve ser divulgado, o ruim deve ser ignorado, deixando assim a possibilidade da descoberta, para que aquele trabalho encontre o seu público e vice-versa.

A crítica, portanto, deve manter-se longe do título de detentora da verdade, sendo mais próxima e amiga do público. E o público, por sua vez, mais interessado, adotando uma postura mais investigativa, menos passiva.

Sendo assim qualquer opinião passa a ser suspeita e gosto se discute sim senhor, pois se gostou, por que gostou? Senão o que não agradou, e o que você esperava. Até o meio termo pode ser aceito, podemos adorar um filme, mas reconhecer que a interpretação de certo ator não foi das melhores, ou que faltou conteúdo na história, embora as cenas de ação sejam muito boas.

Os trabalhos analisados, entenda-se aqui análise, crítica escrita, ensaio, tese ou qualquer conversa de esquina, não têm a obrigatoriedade de ser bons ou ruins; o desenvolvimento de idéias deve prevalecer, e os "porquês" devem sempre levar a novas possibilidades.

Está então firmado o fortalecimento do leitor para com seu livro, ou o espectador com o filme ou a peça de teatro, para que se possa dialogar com a obra, e é a crítica que tem o papel de dar ao público o conhecimento prévio necessário, para maiores possibilidades de diálogo com as obras e os seus artistas.

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