A Garganta da Serpente
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Porque ler

(Welington Almeida Pinto)

Vem aí uma nova etapa da política pública do Governo Lula: restaurar o prazer de ler em sala de aula, ou melhor, criar um cantinho de leitura nas escolas. Ótimo! De acordo com a Diretora de Políticas Públicas de Educação Infantil e Ensino Fundamental da Secretaria de Educação Básica do MEC, Jeanete Beauchamp, será um passo importante para construir o hábito de leitura no cotidiano da criança. E mais, ela pensa que também pode atingir boa parte do professorado, pois defende que "Professor que não é leitor dificilmente vai incentivar a leitura dos seus alunos".

Ler é um bom começo na vida de qualquer cidadão. Além de dar prazer é um caminho que ajuda a melhorar as pessoas: aprimora o conhecimento em geral, oferece subsídios para refletir sobre o mundo e a condição humana.

O programa chega em boa hora. O americano Mark Edmundson, professor de língua inglesa da Universidade de Virgínia e autor do livro Why Read (Por que Ler), desenvolve a tese de que a leitura é "a segunda chance que a vida oferece para o nosso crescimento pessoal". Durante a infância e a adolescência, segundo ele, o indivíduo passa por um processo de socialização. Aprende o que é certo e o que é errado com os pais e os Professores e começa a agir de acordo com o senso comum. Para ele, a leitura favorece o desenvolvimento de idéias próprias, conceitos e valores. Sem ela, o homem continua como
um carneiro que segue o rebanho.

LIVROS DO BRASIL.:

Qual a melhor política para distribuição de livros no Brasil?

Primeiro, achamos que o Programa Nacional do Livro deveria abrir mais o leque e permitir a participação dos autores de todos os cantos do Brasil nas suas licitações. O privilégio continua sendo para os fortes editores do eixo São Paulo/Rio. Passei a vida mandando livros para serem avaliados pelo MEC ou MINC e nunca obtive uma resposta nem de aviso de chegada dos exemplares; provavelmente todos foram para o lixo. Minto. Durante o Governo Militar consegui apoio da CHESF para o lançamento do livro "Malta, o Peixinho-Voador no São Francisco".

No fundo, estou criticando e convidando os leitores a reclamar comigo, não da falta de bons livros distribuídos pelo governo, mas da injustiça de ser um autor que, como pequeno editor ou pessoa física não é chamado a participar das licitações para compra de livros pelo Ministério da Educação.
Para tornar o Brasil um país de leitores precisamos também fazer do escritor um cidadão respeitado pelo seu ofício.

Seria bem-vinda a descentralização da aquisição de livro para distribuição entre os alunos das escolas públicas. Bom para o professor, para os alunos e para os autores, que formariam juntos uma frente ampla em sala de aula para atacar o grande inimigo da leitura no Brasil: o nível de alfabetização do povo. Para o Ibope, de acordo com a última pesquisa realizada, 30% dos brasileiros só conseguem ler frases muito simples e curtas, embora os dados
oficiais indiquem que a taxa de analfabetismo é de apenas 13,6%.

Como numa democracia o grande mérito é permitir à sociedade discutir seu próprio rumo, continuo firme na Campanha que sugere ao Comitê de regulamentação da Lei do Livro a inclusão de um livro infantil na Cesta Básica do Trabalhador; extensão do Selo Social do ECT para remessas em embalagem aberta com apenas um exemplar de obra literária; criação da Loteria Cultural para manutenção e implantação de Bibliotecas em Escolas Públicas ; implantação obrigatória de Bibliotecas em escolas particulares, clubes recreativos, associações de classe e empresas com mais de 50 funcionários e a regulamentação do ofício de Escritor.

LER É BOM PARA SAÚDE.:

Uma pesquisa divulgada em julho de 2004 pela fundação cultural norte-americana, National Endowment for the Arts, atesta que um leitor regular tem a vida muito mais ativa e bem-sucedida do que a pessoa que passa o tempo livre vendo televisão ou em outra atividade que não exige raciocínio. Para quem lê a vida é uma sucessão de novas experiências ampliando seus horizontes. No segundo caso, a maturidade torna-se um processo de atrofia mental. A medicina sabe que exercitar a mente através da leitura ajuda até a prevenir o mal de Alzheimer ? doença degenerativa que atinge os idosos - e ajuda a viver com maior disposição.

Outra pesquisa realizada por uma equipe de psicólogos da Universidade York, no Canadá, divulgada em maio de 2004, adiciona novas evidências à importância da leitura e do estudo para o aperfeiçoamento pessoal. Mostra que quem aprende um segundo idioma retarda em muitos anos os efeitos do envelhecimento no cérebro. O bibliófilo paulista José Mindlin, de 89 anos, atribui seu vigor físico e intelectual ao costume de ler desde a juventude. Chega a devorar até 100 livros por ano.

No Brasil, estima-se que apenas 14% da população com mais de 14 anos leiam obras de ficção com regularidade. Cifra muito abaixo da registrada nos Estados Unidos, onde quase 50% dos habitantes são leitores habituais.

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