Já se fala em um número superior a setenta milhões de blogs
na rede (web 2.0).
Se tal democratização da expressividade humana gera apropriação
indevida, desinformação e uma infinidade de lixo (como é
natural, vindo do homem), ela, ainda assim, permite o florescimento aparente
de um novo mecanismo de expressão da palavra verdadeiramente representativa
do gênero humano - a palavra literária.
No que diz respeito à informação, a polêmica está
posta.
De um lado a crítica guardiã dos valores culturais tradicionais,
como a do historiador britânico Andrew Keen e seus adeptos; de outro a
não menos guardiã, mas ao mesmo tempo mais aberta e receptiva,
capitaneada pelo pesquisador de Harvard David Weinberger.
Mas, com esse novo mecanismo de expressão/criação via palavra
virtual cabe à crítica mais sintonizada não só inibir/discutir
o caos, como também resgatar e orientar o aparente movimento dos fugazes
germes literários que se perdem no seu bojo (como parece propor o brasileiro
Paulo Roberto Pires com o significativo conceito de "literatura estilhaçada").
Já aos protagonistas de tal cena, os poucos blogueiros sérios
e confiáveis, que pretendem construir literatura no cenário da
web, cabe ajudar a alavancar, desenvolver e aprimorar (ainda que virtual e antidarwinianamente)
a direção desse processo, que requer um olhar seletivo, paciente
e desafiador.