A Garganta da Serpente
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Inspiração ou pastiche?

(Rogério Silvério de Farias)

Os escritores brasileiros consagrados são mesmo uns coitados!...Originalidade realmente é uma palavra desconhecida para eles. E o que é pior: as assim chamadas grandes editoras, na ânsia por lucro e nada mais, caem ingenuamente nas garras destes verdadeiros espertalhões da literatura dita séria.

Alguns destes escritores espertinhos e famosos, ainda tem um pingo de decência e ética, pois assumem e confessam suas influências. É raro, mas acontece.

Em minhas navegações pela internet, em altas e solitárias horas da madrugada, deparei-me com algo assaz interessante.

Fiquei sabendo que o livro O Alquimista, de Paulo Coelho, é a cara de um conto de Jorge Luís Borges, intitulado História Dos Dois Que Sonharam, que por sua vez, é a cara de um conto de um dos mais famosos poetas da Pérsia do século XIII, chamado Jalaludin Rumi.

Os erros de concordância do verbo haver, por exemplo, são nítidos em O Alquimista. Provavelmente, no frenesi do lucro, as editoras e o próprio autor ou os revisores não notaram tais erros. Não sei se é verdade, mas alguns internautas (do meu círculo de amizades na grande rede) me disseram que as novas edições deste livro corrigiram os erros crassos. Numa entrevista à revista Época (29 de maio, 2000, contendo, inclusive, uma comparação do texto de Rumi com o de Coelho), Paulo Coelho diz que foram de propósito os erros, já que se considera um autor de vanguarda, além dizer que tem muito dinheiro e outras bobagens. A verdade - me desculpem a sinceridade - é que O Alquimista é um texto muito chato, como chatas foram as letras de Mister Paul Rabbit com o finado roqueiro Raul Seixas. No entanto, aconselho o Paulo Coelho a não desistir, a continuar lendo e escrevendo bastante, pois ele tem futuro, leva jeito mesmo...e, além do mais, ele está ganhando muito dinheiro com isso...

As editoras brasileiras são realmente dignas de todo desprezo. Se um escritor novato enviasse os originais, e estes tivessem os mesmos erros de concordância e fossem cópias disfarçadas de textos pouco conhecidos ou então influenciados por um autor célebre, seriam recusados sistematicamente. Tais editoras só se interessam por coisas ridículas do tipo (por exemplo) uma segunda parte de Marimbondos de Fogo, do Sarney, que por sinal, acho que ninguém nunca leu essa droga, exceto alguns parentes e amiguinhos do todo-poderoso político brasileiro, ou então por o Ai, Que Loucura!, daquela socialite famosa (esta pelo menos é verdadeiramente alegre e muito divertida) Acho que cada escritor e editora têm os leitores que merecem e vice-versa.

No Brasil, para enriquecer e granjear fama como escritor é preciso seguir uma receita: escrever o que as massas psicológica e intelectualmente miseráveis tanto anseiam (uma forma de ganhar dinheiro fácil sem fazer força, a solução sobrenatural para todos os problemas de suas vidas ridículas, miseráveis e mesquinhas, por exemplo) ou plagiar, imitar desavergonhadamente uma obra praticamente desconhecida, editada num outro país e numa outra época e, por fim, o velho marketing de dizer-se escritor de vanguarda nas entrevistas. Pronto! Você será famoso e rico em pouco tempo, será convidado a se tornar uma ridícula e imortal múmia da Academia Brasileira de Letras, conhecerá países e culturas exóticas lideradas por fanáticos e ditadores, ganhará fortunas com palestras e conferências, conhecerá autoridades mundiais nefastas, etc.

Sei que é tênue a fronteira entre a inspiração e o pastiche, mas...sinceramente, meus amigos, prefiro continuar sendo um joão-ninguém da subliteratura. Prefiro ser um escritor de horas vagas, obscuro, desconhecido, excêntrico. Quem sabe neste exato instante, algum famoso escritor não esteja me plagiando? Oh, seria uma honra!...Prefiro continuar publicando de graça em sites na internet, me exercitando literariamente, aguardando o dia em que acharei um editor inteligente que aceite pelo menos ler meus originais. Desejo ser um autor profissional e autêntico, um literato para valer, digamos assim, não um desses autores de araque, burlões da literatura brasileira atual, que para mim cheiram a merceeiros. Na literatura brasileira atual, nada se cria, tudo se copia. E vamos rir, que é para não chorar, meus amigos!...

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