O haicai é o poema de três versos com uma disposição
métrica de 5/7/5 sílabas. É uma arte oriental e como tal
-, exige uma certa disposição psíquica zen para que se
possa, ao haicaiazar sobre a natureza, temática típica dos praticantes
desta quase religião, no que de religare e conexão com o cosmos
possa ter, faça-se a luz nas 3 linhas. Indo além, segundo Paulo
Franchetti - Professor de Literatura, especialista no tema e haicaista -, há
a necessidade de um projeto positivo, ou seja, o haicai tem que afirmar e aceitar
a positividade da natureza. Mas será que, em meio ao turbilhão
pós-pré-pós, em que estamos vivendo, é possível
fazer haicai em Português?.
No Brasil Olga Savary e Leminski são grandes divulgadores do haicai e
tem uma legião de admiradores. Mas há os que acham os haicais
de Olga, Olkais e os de Leminski, Leminskais. Tamanha é a marca pessoal
que deixaram na arte do Haico como defendem alguns brasileiros procurando o
aportuguesamento da palavra.
Mas é entre a colônia nipônica paulista e em torno da lista
HAIKAI-L, moderada por Edson Kenji, de onde fazem parte ou já passaram
Paulo Franchetti e Alice Ruiz que o haicai brasileiro e forjado e estudado de
uma forma rigorosa. Talvez um rigor tão excessivo que acaba impedindo
a difusão desta arte contemplativa no Brasil.
Pelo menos é assim, com muita dificuldade, que interessados em entrar
no mundo das três linhas esbarram com a didática nada simples dos
haicaistas brasileiros mais renomados o que fez Goulart Gomes, quando diante
de uma parede teórica e de uma tradição formalista, fundou
o Movimento poetrix. Mas o que vem a ser esta palavra tão bizarra?
Simplificando, poetrix e o haicai brasileiro sem as leis nipônicas e
sem as exigências de um maior aprofundamento no entendimento dos grandes
mestres orientais, nas teorias e numa tradição milenar do povo
fundador do poema de três versos. Há os que olham com uma cara
feia para o surgimento do poetrix, como algo que, possa limitar o crescimento
do haicai. Utilizam dos artifícios da depreciação, alegando
que o poetrix é menor e feito por poetas ainda em formação
e que não tem a qualidade dos haicaistas nipo-brasileiros.
Digamos que é verdade a tese. E é também uma bela tentativa
antropofágica e brasileiríssima. Goulart Gomes é negro,
bahiano, brasileirío e está conseguindo trazer para sua fileira
todos aqueles que se viam acanhados de se dizer haicaistas e agora se sentem
abraçados por um movimento que agora é internacional. Tem home
page, antologia em e-book e etc.
Mas o crescimento do Poetrix só serve para mostrar que havia uma demanda
reprimida querendo comprar o produto haicai, mas a loja onde os haicais eram
produzidos apresentava uma pompa tamanha que afastava os clientes. Não
quero com isto elevar o Poetrix e rebaixar o Haicai ou fazer á moda Nietzscheana
uma Genealogia do Haikai no Brasil. Ou subistituir um pelo outro. Nem tenho
conhecimento para isto e deixo para o Edson Kenji Iura, um batalhador - o homem
que luta pelo haico brasileiro -, para que faça analises mais profundas
abrindo desde já o espaço no Balacobaco para que sanem qualquer
dúvida que um simples jornalista como eu possa ter criado a partir de
uma avaliação precipitada ou pouco abalizada de uma arte milenar,
se for o caso.
Mas devemos observar que existem muitas restrições e regras inquebrantáveis,
canônicas -, que estão fazendo o poetrix mais popular do que o
haicai no Brasil. Aí reside o perigo do Movimento poetrix, tornar-se
algo fácil extremamente fácil: o que poderá carnavalizar
a noção de poetrix e banalizá-lo.
Mas esta busca pela criação em três linhas, não é um fenômeno brasileiro. O haiku (haicai em inglês) tem um lugar de destaque em http://www.poetry.com - site norte-americano. Diariamente há o haiku contest, uma espécie de concurso que premia os 20 melhores haicais com pasmem um misero mousepad. Contudo a vontade de participar é tão grande e talvez pelo fato de todos os haikus serem publicados mais o prestígio que o lugar está ganhando faz com que haicaistas de todo o mundo participem daquela peleja diária.
No jargão pop nada mais in do que o haicai e o poetrix. Oxalá convivam fraternamente, pois de certo modo cada um cumpre o seu papel definido, o haicai, algo mais tradicional e o poetrix o tempero do acarajé baiano no sushi e no sashimi do dia a dia. Quem sabe uma mistura dos molhos apimentados da Bahia com o soyo nipônico ainda nos dará filhotes saborosamente poéticos.