Há uma certa tendência na literatura atual pelo minimalismo, a
exemplo do movimento Práxis. Os minicontos priorizam os leitores cada
vez mais distantes, com menos tempo para se dedicarem à leitura. Entretanto,
a leitura, como alimento prioritário da alma, revigora o crescimento
intelectual pela arte. E a poesia é a verdadeira essência da palavra,
o cerne de toda a literatura. Obra de arte lapidada.
Eis um perigo: reduzir a poesia à minúscula verve e relevá-la
ao mar das coisas comuns. Ledo engano. A poesia sempre deve estar comprometida
com a essência, com o sentimento, com a visão das coisas aparentemente
invisíveis ao homem comum, como diria Octavio Paz.
Carregar o fardo de poeta num mundo tão avesso e cruel é árdua
tarefa. E a poesia também é essencialmente lírica. A metáfora
é a jóia máxima de toda arte poética. A primavera
de 2005 trouxe uma novidade poética. O livro Punhos da Primavera, a ser
lançado hoje às 19h30 na Fundação Jaime Câmara,
é de um poeta comprometido com a palavra, com a metáfora e a lírica
sempre lapidando as palavras. Os poemas de Weder Soares não são
tão curtos quanto essa nova tendência, mas não torrencialmente
longos como os tradicionais românticos. Weder busca nos versos a sua verdadeira
identidade, como se pegasse as palavras pelos seus miolos, tirasse as suas cascas
adjetivais excessivas, cortasse alguns fiapos verbais e debulhasse as imagens
líricas e lúdicas, brincando com os parênteses, dando dois
sentidos ao mesmo contexto. Weder imprime a musicalidade nas Árias, nos
Cantos, nas Sonatas e no restante de seus versos, desconcertando o leitor desavisado.
Vai "soletrando as ruas", "desmanchando sol", "apresentando
o mar", desatando o "nó de fel/icidade", em "versos
empoeimados" que "entre os dedos afago"; me "curvo ao pé
do poema" e guardo na "caixa de segredos". Há lembranças
de Yêda Schmaltz? Sim. Cada palavra é o impacto de um murro, desses
Punhos de Primavera. O leitor fica atordoado.
Por isso é que se diz que cada leitura muda o leitor. Impossível
ser o mesmo depois de ler qualquer bom livro. Sem pretensão mercadológica,
os melhores livros não costumam ficar em listas dos mais vendidos. Segundo
o crítico Antônio F. Borges, "a boa ou má qualidade
de um livro não decorre absolutamente dos resultados financeiros, embora
às vezes a recíproca possa ser verdadeira: afinal, livros ruins
num país sem larga tradição de leitura... bem, é
fácil deduzir o resto da equação".
Tanta revolta revelaria lamúria por uma cultura escassa que se vende
(e caro) por muito lixo. Mas é o preço que se paga para, ao invés
de massagear a massa cinzenta, enaltecer o ego, num mundo necessitado de valores.
Gosto não se discute, mas a boa leitura não se vende e nem se
ganha: aparece para alimentar o espírito.