Um leitor me consultou: posso usar o adjetivo "bem-vindo" numa gravação
de atendimento ao telefone? Ele não tem uso restrito a lugar? Exemplificando:
a pessoa telefonaria ao jornal e escutaria a gravação dizer: "Bem-vindo
à Folha da Região..."
"Bem-vindo" é sempre aplicado à chegada a algum lugar.
"Bem-vindo a Araçatuba!" diz a placa na avenida Brasília.
Mas nada obsta que em sentido figurado se aplique à voz, seria um processo
metonímico. Não chegou a pessoa inteira, mas a sua voz, sua vontade
de fazer uma assinatura do jornal.
Se embarcamos em avião, quando embarcar é adentrar o barco; se
enterramos espinhos no pé, quanto enterrar é cobrir de terra;
podemos usar "bem-vindo" numa gravação telefônica,
embora ninguém esteja chegando a algum lugar. A língua é
uma entidade dinâmica.
A tecnologia cria certos embaraços. Veja o que acontece com a Internet:
"Bem-vindo a este site!" Se bem que a tradução de "site"
é sítio, um lugar, tornando-se, portanto, o uso pertinente.
Veja outro caso. Se dois amigos estão conectados no site "Entrelinhas"
e conversam por telefone. Os dois vão se referir a ele usando o pronome
demonstrativo este? "Este site é bacana!" - diria o primeiro
interlocutor. "Este site é babaca!" - responderia o outro.
Sim, pois a tecnologia nos proporciona essa simultaneidade.
Se estou com um site de São Paulo no vídeo de meu computador,
trato-o de "esse" ou de "este" quando passo um e-mail a
seu autor?
O internauta, no caso sou eu, um receptor diante do site, por isso o tratamento
deve ser "esse".
Os pronomes demonstrativos localizam os substantivos no espaço (mais
amplo ou mais restrito) tendo como referência o circuito da comunicação
(emissor, receptor, contexto, mensagem, código, canal).
No primeiro caso, o site era o objeto da conversa e estava próximo dos
dois interlocutores que conversavam por telefone. Já no segundo, eu estaria
passando um e-mail para o autor, emissor do site. Mas há controvérsias!