A Garganta da Serpente
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Não leia qualquer coisa

(Hélio Consolaro)

Repasso aos leitores desta Folha uma paráfrase sobre o artigo "Decálogo do leitor", de Alberto Mussa, publicado na revista mensal, vendida nas bancas, "Entrelivros", n.º 27. Assim, socializo o artigo e divulgo a existência dela.

1. Leia por prazer, porque a leitura é essencialmente lúdica, como devem ser as coisas prazerosas. Claro que me refiro à literatura com finalidade estética, como a poesia, o romance, o conto, a novela. Não leia por hábito, livro não é escova de dentes.

2. Leia os clássicos, os livros do passado que encantam os leitores até hoje. Não fique só neles, por favor, senão nunca vai conhecer a literatura atual, cujos lançamentos pululam nas livrarias.

3. Há dois tipos de leitura: a horizontal e a vertical. A primeira é ligeira, feita em qualquer lugar, como ônibus, metrô, consultório. Vá entendendo as palavras novas pelo contexto, no subentendido. A segunda é mais demorada, é um estudo.

4. Não leia qualquer coisa, tenha critério. Quem gosta de ler vê tevê, trabalha no computador, não despreza outras mídias, mas valoriza sobremaneira a leitura porque é uma paixão.

5. O livro não é sagrado. As sociedades de pouca leitura é que endeusam o livro. Leve-o na bolsa. Ele deve ser riscado, com anotações feitas durante a leitura. Livro parado na prateleira se torna inútil, empreste-o, põe-no para cumprir sua função.

6. Leia os clássicos, qualquer autor, de qualquer nacionalidade, mas sobretudo os livros da literatura brasileira, dos escritores de sua cidade. Não seja uma pessoa praticante da monocultura (só tem valor aquilo que é divulgado pela grande mídia), a diversidade cultural começa em sua aldeia.

7. Leia para o seu deleite. Não leia só resenha, como fazem alguns, só para mostrar falsamente que é um homem letrado.

8. Não fique num autor só, lendo dez vezes o mesmo livro, nem no mesmo gênero, tenha uma mentalidade ventilada, saia do seu casulo. Aliás, despreze essa questão de gênero, cujas fronteiras são bem elásticas. Esse negócio de subliteratura é puro preconceito. Se você não gosta de tal autor ou de tal livro, há quem goste.

9. A vida não é só leitura, faça também outras coisas, curta a família e os amigos, viaje, não seja um alienado. Não leia aquilo que não lhe agrade, mas também não diga que um livro é ruim lendo apenas as primeiras páginas.

10. Forme a relação de seus próprios clássicos. Não se considere menor porque não gostou de determinado livro. Nem se impressione porque falam que determinado autor é um gênio. Antes de ser um leitor de livros, seja um leitor de si mesmo e do mundo. Assim, lerá os livros com mais prazer.

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