Ser escritor é tão bom quanto ser pintor, cantor, arquiteto. É
a manifestação da veia artística. Muitos já estão
vivendo de literatura, e não há pecado nisso. Há no mercado
editorial obras para todos os gostos. Seja lá qual for o gênero,
o importante que o escritor conheça a história dele, seus precursores.
Se não é possível cantar rock sem nunca ter ouvido rock,
o mesmo acontece com a literatura: não é possível ser escritor
sem nunca ter lido nada.
O escritor jovem vai pegar o ônibus andando, então precisa saber
quem são seus precursores, como foi a viagem, quem a começou.
Ninguém avança em sua atividade se não conhecer a história
dela.
Selecionei um trecho significativo do celebrado ensaio do escritor Thomas Stearns
Eliot (1888-1965) Tradição de talento individual:
Nenhum poeta, nenhum artista, tem sua significação completa
sozinho. Seu significado e a apreciação que dele fazemos constituem
a apreciação de sua relação com os poetas e os artistas
mortos. Não se pode estimá-lo em si; é preciso situá-lo,
para contraste e comparação, entre os mortos. Entendo isso como
um princípio de estética, não apenas histórica,
mas no sentido crítico. E necessário que ele seja harmônico,
coeso, e não unilateral; o que ocorre quando uma nova obra de arte aparece
é, às vezes, o que ocorre simultaneamente a todas as obras de
arte que a precedem. Os monumentos existentes formam uma ordem ideal entre si,
e esta só se modifica pelo aparecimento de uma nova (realmente nova)
obra entre eles. A ordem existente é completa antes que a nova obra apareça;
para que a ordem persista após a introdução da novidade,
a totalidade da ordem existente deve ser, se jamais o foi sequer levemente,
alterada: e desse modo as relações, proporções,
valores de cada obra de arte rume ao todo são reajustados. E aí
reside a harmonia entre o antigo e o novo. Quem quer que haja aceito essa idéia
de ordem, da forma da literatura européia ou inglesa, não julgará
absurdo que o passado deva ser modificado pelo presente tanto quanto o presente
esteja orientado pelo passado. E o poeta que disso está ciente terá
consciência de grandes dificuldades e responsabilidades.
Escreva, caro jovem, mas leia também, se engaje nessa onda chamada literatura.