Tendo como objetivo tornar o aluno leitor e produtor de textos coerentes, a
prática de análise lingüística constitui-se num instrumental
capaz de refletir a organização do texto escrito; um trabalho
que perceba o texto como o resultado de opções temáticas
e estruturais feitas pelo autor, tendo em vista o seu interlocutor.
Convém ressaltar que os procedimentos usuais adotados pela maioria das
gramáticas demonstram a tendência em privilegiar o estudo do sistema
lingüístico em si mesmo e não o seu uso, ou melhor, o seu
funcionamento nos mais diferentes tipos de textos.
Normalmente selecionam-se e organizam-se itens da língua com o intuito
de se demonstrar ao aluno e cobrar dele apenas de que modo as regras do sistema
podem ser manifestadas através de frases isoladas co-textual e con-textualmente.
A prática da análise lingüística em sala de aula se
apresenta como uma forma de se trabalhar a gramática a partir da produção
do aluno. No caso, uma gramática emergencial, que prioriza suas necessidades,
mas que se preocupa igualmente em acompanhar passo a passo todas as etapas do
desenvolvimento de formação lingüística dos aprendizes.
A reflexão sobre a língua e seu ensino permite analisar como está
difícil e defeituoso o ensino da língua portuguesa nas salas de
aula. O grande defeito encontra-se na falta de mudanças na prática
de ensino/aprendizagem em que os professores, ou não se especializam
ou não praticam sua especialização satisfatoriamente. Mas
este não é totalmente o maior problema. O desinteresse dos alunos
pela língua é um problema muito preocupante, porém, é
claro que desenvolveu-se esse desafeto à língua através
da falha dos professores e seus simples planejamentos de aula, impostos ou influenciados
rigidamente pela proposta da escola.
O que se pode notar é que os alunos não estão motivados
a estudar o sistema gramatical, pois não há (re)construção
de conhecimentos. Eles estão sempre
aptos a absorver e obedecer a proposta colocada pelo professor, sem ao menos
retrucar. Esse comportamento antigo de escola tradicional, apesar das tentativas
de mudanças a esse respeito, continua na cabeça dos alunos como
forma mais rápida de passar de ano e receber o diploma, ou seja, apenas
memorizando o conteúdo gramatical naquele momento. Assim, assistem à
aula rotinizada na perspectiva de integrar aos padrões sociais intactos
sem direito a outra interpretação.
Para transformar essa situação negativa em aspecto positivo e
produtivo precisa-se incentivar o aluno a buscar conhecimentos, refletir e agir
sobre as aulas mecanizadas, para delas fazer uso da língua em torno do
que aspira a proposta normativa, pois isso movimenta e transfere o poder para
o aluno entender a complexidade da língua no âmbito gramatical,
que conseqüentemente o invade de ânimo para fazer-se um individuo
crítico-social ativo. É a partir da busca por respostas as situações-problema
encontradas pelos próprios alunos, que eles têm da amplitude do
mundo e de seu poder cognitivo.
A prática da análise lingüística deve ser uma constante
em todo o processo de produção de textos do aluno, isso significa
um acompanhamento do desenvolver da prática de elaboração
de textos.
Faz-se necessário inovar a prática de ensino para um questionamento
reconstrutivo, desafiar o raciocínio dos alunos e do próprio professor,
porque ambos sempre estarão entusiasmados a buscarem respostas, além
de motivar o desempenho de estudo da gramática, flexibilizar a construção
do conhecimento de forma contribuinte à realidade escolar, o que torna
mais prazerosa a educação.
Esse acompanhamento exige uma ruptura com o contato avaliativo-normativo do
professor com o texto, pois o texto não deve ser analisado somente pela
ótica gramatical, e também não deve ser efetuado um único
contato com o texto produzido. O corpus do trabalho de análise lingüística
é formado pelo(s) texto(s) do(s) aluno(s), portanto, o ponto de partida
é o próprio texto do aluno. Com isso a prática e a análise
lingüística se constitui num processo dialógico que abrange
em si o contexto conteudístico da formação teórica
gramatical, do uso/prática da linguagem e das inferências axiológicas.
Isso se dá num processo de volta ao texto, releitura, nova redação.
Sendo com isso uma (re)produção do texto pelo sujeito (autor-leitor)
como um acontecimento novo, constituinte de um novo elo na cadeia histórica
da comunicação verbal, efetivando uma aprendizagem significativa
para os membros envolvidos no processo de construção do conhecimento.