A propósito de meu livro mais recente, "A Mulher é Amar",
um jovem me faz um interrogatório com pedido de conselhos etc. Seja por
que nessa matéria eu só tenho um conselho - ler muito e escrever
todos os dias, pelo menos 20 minutos, e como não me considero apto a
dar conselhos em literatura, matéria da qual me sinto, sinceramente,
aprendiz, esbocei as idéias abaixo. Oxalá o ajudem.
A sina do escritor, não é a de ser conhecido, famoso nem best
seller, mas a de encontrar, aos poucos, almas irmãs (podem também
ser primas) capazes de sintonia. Não é necessário sucesso.
Este é mera manifestação epidérmica da contemporaneidade.
É necessário, sim, ir fundo em si mesmo, encontrando meios e modos
de grafar as verdades e observações próprias. Nesse caso
é maior a hipótese de sua obra durar.
Jamais frear o impulso criador, pouco importa o seu destino. O escritor precisa
lutar, com as forças que tiver, para ludibriar os sistemas e as exigências
da sobrevivência, da convivência, e encontrar tempo - ainda que
escasso e roubado até de felicidades - para o exercício de
seu trabalho, não importa se horas ou minutos, em que tipo de papel,
máquina ou computador...
É imperdoável em quem dotado do dom de ser escritor deixar escapar
vivências, idéias, temas, escritos, sem fixar a percepção
luminosa, quando ocorre. As inspirações raramente retornam da
mesma maneira. Muitas vezes desaparecem para sempre no fluxo incessante e maravilhoso
da mente. Cada percepção luminosa pertence a um envolvimento peculiar
e a momentos sensíveis que não se repetem. Podem, até,
retornar sob outras formas, adiante. Podem, ademais, constituir obsessões
do repertório de vivências internas de cada um. Porém nunca
retornam da mesma maneira. Para um escritor, é imperdoável desperdício
deixá-las passar.
Ao lado da inspiração, há, porém, a necessidade
de tempo para o trabalho braçal de desenvolver as idéias e aprimorar
o texto. Aqui, é necessário labuta e persistência. Não
importa, igualmente, se o escritor nato tem ou não condições
para fazê-lo dentro do tempo e do ritmo impostos pelos sistemas. É
fazer: custe o que custar. Mesmo que a obra demore muitos anos e seja esculpida
com a lentidão necessária a dar forma à pedra ou bronze,
o dever maior é o de realizá-la. Escrever é, também,
forma de meditar, não apenas no sentido de exercitar o pensamento, mas
no de fazer o que os orientais chamam de meditação, vale dizer,
a interrupção do fluxo das ansiedades inerentes a cada vida e
à vida, para, após liberar a mente e dar entrada no próprio
imo, interromper os motivos de sofrimento e doença. Quem deseja escrever
não deve pensar no sucesso e sim nas almas com as quais se identificará,
muitas ou poucas, não importa. Escrever não é saber: é
tomar consciência do que se está a aprender na vida. Por falar
em vida, a verdadeira vida dos livros começa nos sebos.
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