Releio velhos papéis e encontro antigo boletim da Fundação
Nacional do Livro Infantil e Juvenil. Lá, leio interessantérrimo
texto do escritor japonês Shigeo Watanabe, sobre maravilhas operadas pelo
livro na infância:
"Em criança eu ouvia canções e cantigas de ninar na
quentura macia do colo de minha mãe e lendas de heróis e aventuras
agarrado nos braços fortes de meu pai. E quando eu queria escutar um
conto popular, sempre havia um avô ou avó prontos para atender
ao meu pedido. Na escola primária, tive um professor que, nos dias de
chuva, nos dizia para deixar de lado os livros didáticos. Ele puxava
um livrinho do bolso e lia para nós lendas exóticas da mitologia
grega. As histórias que ouvimos na infância ficam conosco pelo
resto da vida, ligadas profundamente à lembrança das pessoas que
nos contaram.
Para mim, histórias sempre foram muito importantes: me deram paz de espírito,
ampliaram meus horizontes, me dotaram de delicadeza e da capacidade de suportar
a solidão, alimentaram a força que traz coragem e fibra. Quando
constituí minha família, minha mulher e eu passamos esta extraordinária
experiência para nossas crianças. Ler para eles as histórias
preferidas foi fantasticamente feliz e inesquecível.
Para isso, é claro recorremos aos livros. Através dos livros lidos
em conjunto, encontramos amigos comuns, descobrimos novos reinos da imaginação
e viajamos pelo mundo todo. Os livros partilhados em família são
como o lar dos corações, o lugar onde inauguramos nossa vida espiritual.
Os laços que os livros criam entre pais e filhos são muito fortes.
Acredito firmemente no poder dos livros. Eles registram para sempre as histórias
que as pessoas inventam, muitas vezes com ilustrações, numa forma
simples e acessível a todos. Podem ser lidos a qualquer hora em qualquer
lugar. Os livros unem corações e mentes transcendendo tempo, espaço,
língua e cultura. Ler é um ato solitário e ao mesmo tempo
partilhado por todas as pessoas.
Se todas as crianças do mundo pudessem aprender a ler e se cada pessoa
tivesse pelo menos um livro, com certeza as guerras e conflitos que afligem
o mundo diminuiriam radicalmente. Todo adulto que se lembra da sua infância
sabe o que era sentir-se sozinho. E nós lembramos que o que nos salvava
da angústia e da solidão e nos dava esperanças eram os
livros e as histórias. Podemos constatar isso de forma muito clara nos
relatos obtidos em campos de refugiados de guerra. Depois da comida, são
os livros que devolvem mais rapidamente o sorriso ao rosto das crianças.
Esses sorrisos nos dizem com toda a certeza: bons livros infantis podem ajudar
a pavimentar o caminho da paz". Shigeo Watanabe.
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