A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
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A mulher de branco

(Aristides Dornas Júnior)

Se fosse dia das noivas, eu diria que seria o dia da mulher de branco, saindo do altar e jogando o buquê de laranjeira para as solteiras. Mas, não é o dia das noivas. O que acontece então? É que eu vejo uma mulher de branco na esquina. E ela aguarda silenciosamente. O que? Não sei. Talvez o seu namorado. Talvez o anjo que a conduzirá pelas avenidas tão movimentadas da cidade grande.

A mulher de branco está calada. Talvez precise de uma palavra amiga. Ela é bela e solitária. Não me atrevo a aproximar dela. Talvez seja a modelo ideal para um quadro de pintura ainda não realizado. Aqui, finalmente, me pergunto quem é a mulher de branco. Pode ser uma ninfa, pode ser uma deusa grega que voltou aos nossos dias para nos dar algum encanto e, ao mesmo tempo, nos causar espanto pois que Atena não se acostumou ao esquecimento que os modernos homens e mulheres lhe devotaram.

A mulher de branco pode estar se preparando para assaltar um banco. Devo chamar a polícia? Não, por enquanto é ela é apenas suspeita. E suspeitos não são necessariamente culpados. Se houver algum latrocínio e a mulher de branco participar ela certamente vai jogar o seu charme para cima dos policiais e livrar a si mesma e aos seus cúmplices da pena que acaso o juiz da vara criminal quiser lhes impingir.

A mulher de branco não me assusta, mas pode ser a mulher fantasma do poema de Carlos Drummond de Andrade, a que andou pelas ruas de Belo Horizonte. Neste caso eu a entrevistarei e ficarei sabendo como foi que ela se deu a conhecer ao insigne poeta itabirano.

A mulher de branco, enfim, abandona a esquina e sai de braços dados com um desconhecido que teve o privilégio de ser um conhecido dela. E me deixa perguntando quem era afinal aquela mulher que eu nunca mais verei. O que é uma pena e então eu me debruço sobre o papel e registro este momento em que vi a mulher de branco.

  • Publicado em: 12/04/2017
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