A Garganta da Serpente

Vanderley Caixe

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Tenho Medo

tenho medo do meu silêncio,
tenho medo das palavras que eu não disse,
tenho medo de ter medo,
tenho medo desse enredo, dessa mesmice.

tenho medo desse sonho calado,
tenho medo de calar esse grito de horror,
tenho medo dos apóstolos ajustados,
tenho medo do meu comportado pavor.

tenho medo que essa vaga me incrusta,
tenho medo de ser um sujeito formatado,
tenho medo que me botem saia justa,
tenho medo de me fazer bitolado.

tenho medo que eles pensem que tenho medo
de denunciar a matança de homens, mulheres e crianças.
tenho medo que a minha voz se cale de bruços,
enquanto outras terras eles invadem e matam as esperanças.

tenho medo da torpeza da indiferença,
tenho medo da insensibilidade dos meus versos,
tenho medo de falar em abstrato de flores, dores e amores,
tenho medo de desenquadrá-los do real amores, dores e flores.

tenho medo de amordaçar a minha angústia,
tenho medo de ter medo de chorar essas crianças,
tenho medo de esquecer todos os seus nomes,
tenho medo de caducar todos os pronomes,
tenho medo de confundir-me, na escolha,
entre ser homem ou lobisomem.

tenho medo de ser aceito socialmente,
por não de não ter dito convenientemente,
as verdades duras do nosso presente.


(Vanderley Caixe)


voltar última atualização: 03/05/2007
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