A Garganta da Serpente
Os habitantes perfis e biografias dos autores

Vanderley Caixe

Nascera Vanderley Caixe num momento de grande catástrofe moral e política de nosso planeta. O nazismo e o fascismo se digladiavam com os ideais de liberdade, solidariedade e autonomia dos povos. Era a Segunda Guerra. O segundo flagelo mundial de nosso século. Um ano mais tarde, em 1945, ao horror perpetrado por Hitler e Mussolini se somaria o inaugurado pelos Estados Unidos em Hiroshima e Nagasaki: a bomba atômica. As armas, a partir de então, seriam nucleares, mais potentes, enfim, para o sucesso das guerras promovidas pelos países hegemônicos.
Aos dezesseis anos, em 1960, Vanderley Caixe ingressa na Juventude Comunista. Preparava-se, assim, para atuar, de forma organizada, na luta pela emancipação dos trabalhadores. É um tempo de desejo de mudanças... Tempos de trabalhadores na rua... Tempos das Ligas Camponesas... Tempos de João Pedro e de Elizabeth Teixeira levantarem o campo da Paraíba. Tempos de resistência, de rebeldia.
Em 1966, Vanderley Caixe funda – juntamente com outros Companheiros e Companheiras – a Frente Armada de Libertação Nacional. Durante três anos, Vanderley dirigira essa organização política se opondo, radical e simultaneamente, à ditadura civil-militar e ao regime capitalista. Mas ainda não seria dessa vez. As armas da libertação foram vencidas pelo poder bélico, institucional e financeiro da opressão. Em 1969, direção e membros da Frente Armada de Libertação Nacional são presos. Desceria Vanderley Caixe aos porões da ditadura.
Enquadrado na Lei de Segurança Nacional, Vanderley Caixe percorreria vários cárceres do Brasil: Presídio Tiradentes, Presídio Wenceslau – onde, em 1972, lidera uma Greve de Fome dos presos políticos – Presídio Hipódromo, de onde sai para a liberdade em 1974. Saíra com cicatrizes no corpo, mas a alma intacta. Conhecera, é verdade, a brutalidade, a infâmia e a torpeza. Mas conhecera, também, a enorme beleza humana expressa pelo calor da solidariedade daqueles que, como ele, enfrentaram o horror de nossas prisões e, fora dos cárceres, persistiam na denúncia contra o arbítrio.
Neste mesmo ano, Vanderley Caixe conclui o curso de Direito e transfere-se para o Rio de Janeiro onde exerce advocacia no escritório do Professor Sobral Pinto. Torna-se assessor e coordenador da Pastoral Penal do Rio de Janeiro. Volta a escrever em jornais de oposição ao governo ditatorial. Em 1975, conhece a Paraíba. Em 1976, fixa residência em João Pessoa. Aceitara o convite do Arcebispo D. José Maria Pires de criar e dirigir o Centro de Defesa dos Direitos Humanos da Arquidiocese da Paraíba. Vanderley Caixe fundaria, então, o Primeiro Centro de Defesa dos Direitos Humanos do Brasil, voltado para a defesa dos trabalhadores rurais e urbanos. É o primeiro advogado da Aduf.
Em 1980, funda o Centro de Defesa dos Direitos Humanos, Assessoria e Educação Popular. Esse novo Centro seria acrescido de um trabalho especificamente voltado para as mulheres camponesas. O seu resultado é o lançamento da REVISTA VAMOS. Era tempo de reorganização. Da volta do sindicalismo combativo, das oposições sindicais que iam varrendo as direções pelegas e submissas aos patrões.
Quando de seu retorno a Ribeirão Preto em 1994 – cidade de origem - Vanderley Caixe já havia atuado em quase duzentas áreas rurais em conflito em nosso Estado. Na cidade paulista, instala o Centro de Defesa dos Direitos Humanos, Assessoria e Educação Popular, permanecendo na luta junto aos camponeses. Torna-se assessor jurídico do Sem Terra através da Rede Nacional dos Advogados Populares, advogado dos presos políticos da América Latina, através da Corte Internacional de Direitos Humanos e da Comissão de Direitos Humanos da ONU. Sua solidariedade atuante alcançaria nossos companheiros da América Latina, entre eles, os integrantes da Frente Manoel Rodrigues, no Chile; do Tupac Amaru, do Sendero Luminoso e as presas políticas da Argentina. Com as ferramentas das novas tecnologias, Vanderley Caixe cria a Revista O Berro, de onde intervia, com acuidade, acerca dos problemas do Brasil e da humanidade, em geral.
Outorgado cidadão paraibano, graças aos trabalhos prestados em prol dos Direitos Humanos na Paraíba, o reconhecimento público também se estendia à conduta com a qual o Companheiro Vanderley Caixe havia se movido, sofrido e vivido os tempos difíceis dessa última metade do século XX, alimentado pelo calor dos que lutam em busca da dignidade humana.
Faleceu em 13 de novembro de 2012.
Como dizia Bertold Brecht, há homens que lutam um dia e são bons, há outros que lutam um ano e são melhores, há aqueles que lutam a vida inteira. Estes são imprescindíveis. Com toda certeza, Vanderley Caixe faz parte da galeria dos imprescindíveis.
(Wilma Mendonça)

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