ROCINHA
Hoje volto aquela infância perdida.
Quero te ver mais uma vez. Sentida
por saber como estás abandonada e apática.
Feia, triste, desprezada mas, ainda, mágica.
Nas tuas árvores... e como eram tantas!
Cantavam passarinhos, melodias quantas!
Onde está o juazeiro que emoldurava o portão?
Deve ter morrido de velhice e solidão.
E o riachinho que atravessava o bambuzal?
Corria, alegremente, ao passar pelo quintal.
Quantas vezes saltitei naquelas pedras -
Inocente infância - acreditas no caminho por onde medras.
Não mais vagueia o riachinho. Foi esquecido.
Somente vive no meu sonho adormecido.
Já não se vê seu resvalar entre a folhagem,
Cumprimentando as florezinhas a sua margem.
Oh! Mas quanto vazio encontro por aqui,
Nem parece o paraíso onde cresci.
O casarão agoniza. Gigante em ruína.
Não eras o meu refúgio de menina?
Na alameda formada de pitangueiras
Onde eu brincava despreocupada e fagueira,
Somente um pé restou, velho e entristecido,
Como se recusasse a entender o acontecido.
Mas tu és a minha lembrança mais querida,
Fizeste parte da aurora da minha vida,
Em ti vivi feliz, muito feliz, ventura eu tinha,
Na rua do Amparo, sem número - Rocinha.
Poema classificado em 5º.lugar no 1º.Concurso
de Poesias do GLAN, integrando a Coletânea de 2006.
(Sonia Lobo)
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