A Garganta da Serpente

Janio Lima

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Meu dicionário

Artigo de poucas paginas, sem muitos verbos
sem muitas palavras, as poucas que tem
traduzem o mundo apenas com o som.
Poucas palavras, palavras pequenas, amenas
meu dicionário é curto e grosso, é raso
e calmo, é um tanto profundo, desordenado.

Poucas pronuncias, muita rigidez ao ser pronunciada
há tantas palavras que transmitem nada, outras
transmitem tudo, umas formam a sintaxe do
português pungente, outras completam a ortografia
errada de cada frase formada.

Se as metáforas são poucas, os paradoxos são diversos
são extremos, são infinitos como a infinidades de acentuação.
Se regências e crases são tão fáceis
como mostra o português em meu dicionário elas
se tornam tão difíceis como o falar dos loucos, bêbados e suicidas.
tão difíceis como tabela de seno e cós-seno.

Meu dicionário é completo de formas e formas
cadencio o parnasiano, admiro o modernismo,
minha revidação mais forte, minha arma secreta
minha paixão construída, não nascida. a palavra
é sem duvida alguma, com ou sem auxilio do
dicionário caminho curto para um entendimento,
um verbo que encarna no seu corpo e corre pelas suas veias
sanguíneas, é parte fundamental do corpo,
é sua estrutura óssea pois mantém erguido contra
todas as ofensas de tantas bocas porcas.

A palavra movimenta a fala, o discurso, o sermão
a palavra fura como um tiro no coração, fere bem
fundo, perfura a carne, faz sangrar vergonha de quem
as ouves e sem argumento cala-se, a palavra consegue
essa façanha a de fazer calar, ficar mudo, perplexo.

Meu dicionário valoriza o cunho vernáculo dos vocábulos,
meu dicionário conjuga todos os verbos, em todas
as forma verbais, em todos os tempos e modos,
conjuga todos inclusive a palavra poetizar.


(Janio Lima)


voltar última atualização: 03/07/2009
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