As cantigas satíricas (cantigas de escárnio e cantigas de maldizer) apresentam interesse sobretudo histórico, reunindo cantigas autóctones maliciosa da época. São verdadeiros documentos dos costumes e da vida social e política, principalmente da corte, trazendo até nós os mexericos e os vícios ocultos da fidalguia medieval portuguesa, sem a idealização da cantiga de amor.
Seu objetivo é a crítica social, com intuito humorístico, ridicularizando pessoas de forma sutil ou grosseira, denunciando os falsos valores morais vigentes e atingindo todas as classes sociais: senhores feudais, clérigos, povo e até eles próprios.
Seus principais temas são: a covardia dos cavaleiros, traições, as chacotas e deboches, escândalos das amas e tecedeiras, pederastia (homossexualismo) e pedofilia (relações sexuais com crianças), adultério e amores interesseiros e ilícitos, disputas políticas, mulheres feias.
Tanto nas cantigas de escárnio quanto nas de maldizer, pode ocorrer diálogo. Quando isso acontece, a cantiga é denominada tensão (ou tenção). Pode mostrar a conversa entre a mãe a moça, uma moça e uma amiga, a moça e a natureza, ou ainda, a discussão entre um trovador e um jogral, ambos tentando provar que são mais competentes em sua arte.
É verdade que seu valor poético é pequeno, mas seu aspecto documental torna imprescindível seu estudo. Ademais, são importantes uma vez que apresentam um considerável vocabulário, observando-se, muitas vezes o uso de trocadilhos; e fogem às normas rígidas das cantigas de amor oferecendo novos recursos poéticos.
A diferenças entre as cantigas de escárnio e de maldizer é sutil.
Sátira social ou individual. Crítica indireta, sarcástica,
zombeteira e de linguagem ambígua. Presença de menosprezo, desprezo
e desdém. Não se nomeia a pessoa criticada, mas esta é facilmente
reconhecível pelos demais elementos da sociedade.Uso da ironia, do equívoco
e da sutileza, com intuito humorístico.
Sátira direta, maledicente, com
linguagem objetiva e inequívoca. Neste tipo de cantiga é feita uma
crítica pesada, com intenção de ofender e difamar, citando-se
o nome da pessoa ridicularizada. Presença de agressividade e uso de termos
vulgares, grosseiros e obscenos, inclusive palavrões. Há uma abordagem
mais desabusada dos vícios sexuais atribuídos aos satirizados.