Porque é preciso fixar-se de algum modo neste lugar encantado, até
que a última realidade se dissolva ali, em cima daquela mesa suja onde
repousam os classificados, alguns farelos de pão e um café aguado.
Então, ela colocou seu ego deitado dentro de um pires de porcelana chinesa,
fez uma promessa descompromissada e esperou o próximo jantar. Era um
ego tão convidativo quanto um chic crepe suíço de morangos
banhados em chocolate derretido quando se está nauseando. A partir daquele
exato instante, quem tomasse café-com-palavras e não mais se preocupasse
com o pires chinês (que parecia paraguaio), sentiria o ego murchar como
um pão dormido e francês de padaria portuguesa. Mas tempo parou
e só restaram os farelos de palavras cansadas de prometer o improvável.
Ninguém mais sentou para comer na mesa. Só os chatos se importam
com pires chineses.
Mas o que isso significa?
Ela só precisava de um café pra se acalmar. Não tinha água
em nenhuma parte da casa, não tinha comida nem ninguém, só
palavras cansadas de prometer o improvável. Uma casa, um lugar concentrado,
harmônico e abstrato habitava suas mãos e nessa ela se procurava;
na solidão dos gestos universais. E cada vez mais se perdia e estava
mesmo sozinha e só disse o essencial: UM CAFÉ! Não, não
se sabe pra onde vão os fragmentos perdidos e a partindo de um ponto
qualquer (desprendido) é impossível distinguir egos, atos e efeitos
do café e dos desejos e duro é admitir que dentro do próprio
sujeito existem outros ocultos que se atropelam no aperto desta face.
Como se o chão tivesse sumido de repente, mas não, ainda não,
a face não tinha afundado nem caído no abismo sugador, que se
ergueu entre a ausência e um cafezinho, durante uma viagem ao centro do
espiral formado entre a colher e o café.
Nunca se volta do mesmo jeito de uma viagem, seja ela qual for.
E era sempre ela e sua vida, no fim, sempre necessários os cafés
e outras anfetaminas para aliviar que ela diz e vê: água em palavras.
O negócio é se movimentar e se você vê o outro se
movimentando já entra no fluxo. E a prisão pode se dissolver por
alguns instantes. Até que o movimento se esvazie do significado - isso
é uma consequência de sair do eixo. Os gestos acontecem sem
que o movimento seja capturado pela racionalidade. Essa prisão (a imagem)
é uma tentativa de disciplinar o caos das possibilidades.
* Não, realmente ela não estava ali. As imagens capturadas ampliam
o que foge a ótica natural - a ausência.