Desconstrução
Ah, perfeita, traz esse seco
para o gotejante d'água de meus olhos
na presença mundana de teus olhos;
traz esse ar no muito calor
e me faz respirar na tua boca
esse espírito assoprando
de tua respiração.
Ah, perfeita, traz esse seu lado leigo
e me desconheça por inteiro
para que, enfim, possas
cavar um buraco em minha terra
e saber quem sou nessa lama
de desejo por desejo e alma.
Vem, perfeita, descobrir que não
sou perfeito e pretendo ser
esse alguém que te desconcerta
e faz de ti não mais perfeita
mas simplesmente a amada,
de defeitos e carne - a que seca.
Dá-me tua mão e tua vida,
troca comigo a vontade de viver;
dá-me tua afeição pelos homens
e tua alegria pelos gestos das criaturas
pois minha força de acabar-se
a tua em meu espírito flutuando gozo
e acenando um adeus ao infinito.
Ah, traz a verdade, a razão
traz, perfeita, a experiência
para que nos possamos conhecer,
as palavras para nos desdizermos,
a emoção para nos esquecermos
e as compras do mês porque nada é perfeito.
(Zuza Nascimento)
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