A Garganta da Serpente

Zé Luis

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ESTOU AQUI

Estou aqui de pé diante de mim
Sem saber quem sou de onde
Venho para onde vou

Sou eu aqui a olhar para mim
A pensar que sei quem sou, o que
Que quero e o que não quero

Sou eu a olhar para o além das coisas
Que me rodeiam
Sou eu!
Se eu sou no trago da minha
Aguardente espessa, dura

Ai….quem me dera pertencer a
Esta Lisboa que eu conheço
Que me grita que me rasga

Nos passeios das ruas inteiras e vazias
Da Lisboa dos pregões do fado esquecido
Por detrás das janelas já fechadas

Mas que existem no local exacto do fado
Dos pregões nocturnos dos vendedores
Dos fados puramente comerciais

Quem me dera vir à janela e ouvir
Os pregões dos limões que serão vendidos na praça
E pensar que o meu amor
Passará debaixo da minha janela

E vendera o meu destino
De rosa enjeitada
Quem serás tu ?

Na espera do meu caminho
No final do meu ser
Quem és tu rosa
Vermelha
Quem és tu ?

Tranquilamente vi passar os corpos que se ergueram no fado
Quem és tu meu brazão doirado
Meu salão definido
Onde o mar se encontrou com o fado

Quem és tu caravela que foste até ao Brasil
Quem és tu mulher envolvida no manto
Da glória

Quem és tu voz rouca do fado que me fizeste chorar
Quem és tu
Quem és tu?

Quem és tu mulherá!
Mulher perdida na taverna da esquina
Onde o amor louco do fado se perdeu nas
Orações da tua voz!

Onde o fadista se tornou mais fadista ao som das tuas lágrimas
Das lágrimas perdidas no fado chorado
À porta do próprio fado

Não me digas nada!…
Diz-me baixinho
Que o fado é a minha razão
De te ouvir

Diz-me sem falar que o fado
Sou eu és tu
Que é a estrela que não vemos
E que procuramos

O fado triste e alegre das ruas que pisaste
O fado alegre das ruas que cruzaste
O meu eu perdido no firmamento
Deste fado

Que se projecta para além do fado

Oh!..o fado de mim
O fado que a Severa
Adormeceu
O fado de Lisboa


(Zé Luis)


voltar última atualização: 23/07/2007
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