A Garganta da Serpente

Zé Luis

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CHUVA ALEGRE

Esta chuva que alegremente cai sobre a minha alma
Num esporádico intervalo de sensaçoes puramente
Iguais ao cair da chuva em telhados de zinco

Este meu olhar indiferente às causas naturais do
Acontecer este acontecer de coisas que se olham
Num profundo suceder de acontecimentos que
Se formam na minha ideia

Eu olhando alegremente o espaço conquistado pelos
Voos das aves que gritam num esforço pasmatório
Do voo alegre que executam neste dia de chuva

Da chuva que alegremente cai em mim e desliza pelo
Exterior do meu corpo num rodopio de sensações
Minhas perdidas á beira do mar

Das areias marcadas pelo meu caminhar
Pelo sentir o peso de cada passo mergulhado
Na luz branca do luar que este pôr do sol
Amarelo marcou

Destas flores esquecidas murchas nas flores
Que ainda são flores de quem a seiva secou
Num compreender de deixar de se sentir
O cheiro fresco

Das manhãs de chuva o sentir a queimado
Do ido do sem nada
Do cheiro a vazio a seco
O cheiro a nada

A palma da minha mão erguida para o
Azul das nuvens que passam
Numa tentativa de colher as gotas da chuva
Que me traz o cheiro das manhãs frescas

Das manhãs alegres e sentidas quando abro a janela do
Meu quarto desta aldeia imaginária e sinto o cheiro
Da terra
Da terra que me circunda e que me penetra

Que me leva e que traz para além das sensações do dia anterior

Fecho os olhos e apalpo as pétalas de mim
Para além do meu sentir
Sinto-me fresco
Sinto-me eu
Sinto-me ir
Sinto-me imaginário de mim
No meu alegre

Apertar o cheiro das flores que a manhã me traz
Sinto-me alegre
Sinto-me chuva
Sinto-me guerreiro dos castelos

Perdidos das histórias esquecidas à beira
Das muralhas deslavradas
Sinto-me o rei da minha história
Estóico bravo e fraco

Sinto-me as rainhas perdidas entre o espaço
E o ser
Sinto-me o general das guerras santas
Das guerras perdidas

Sinto-me eu sem me saber explicar
Sinto-me o homem perdido sem o encontrar
Sinto-me enfim o ser moribundo

Que dorme à sombra do seu existir

Sinto-me os eucaliptos espalhados entre as areias
E o nevoeiro do aquém e além
Perdido nas praias de um norte
Sem direcção

Sinto-me incarnado
Mas sinto que não o devo

Sinto-me a verdade oculta
Que não conheço

Sinto-me peregrino sem nunca ter feito
Peregrinações

Sinto-me só
Porque nasci assim
Eu
E o eu que sou


(Zé Luis)


voltar última atualização: 23/07/2007
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