CHUVA ALEGRE
Esta chuva que alegremente cai sobre a minha alma
Num esporádico intervalo de sensaçoes puramente
Iguais ao cair da chuva em telhados de zinco
Este meu olhar indiferente às causas naturais do
Acontecer este acontecer de coisas que se olham
Num profundo suceder de acontecimentos que
Se formam na minha ideia
Eu olhando alegremente o espaço conquistado pelos
Voos das aves que gritam num esforço pasmatório
Do voo alegre que executam neste dia de chuva
Da chuva que alegremente cai em mim e desliza pelo
Exterior do meu corpo num rodopio de sensações
Minhas perdidas á beira do mar
Das areias marcadas pelo meu caminhar
Pelo sentir o peso de cada passo mergulhado
Na luz branca do luar que este pôr do sol
Amarelo marcou
Destas flores esquecidas murchas nas flores
Que ainda são flores de quem a seiva secou
Num compreender de deixar de se sentir
O cheiro fresco
Das manhãs de chuva o sentir a queimado
Do ido do sem nada
Do cheiro a vazio a seco
O cheiro a nada
A palma da minha mão erguida para o
Azul das nuvens que passam
Numa tentativa de colher as gotas da chuva
Que me traz o cheiro das manhãs frescas
Das manhãs alegres e sentidas quando abro a janela do
Meu quarto desta aldeia imaginária e sinto o cheiro
Da terra
Da terra que me circunda e que me penetra
Que me leva e que traz para além das sensações do dia
anterior
Fecho os olhos e apalpo as pétalas de mim
Para além do meu sentir
Sinto-me fresco
Sinto-me eu
Sinto-me ir
Sinto-me imaginário de mim
No meu alegre
Apertar o cheiro das flores que a manhã me traz
Sinto-me alegre
Sinto-me chuva
Sinto-me guerreiro dos castelos
Perdidos das histórias esquecidas à beira
Das muralhas deslavradas
Sinto-me o rei da minha história
Estóico bravo e fraco
Sinto-me as rainhas perdidas entre o espaço
E o ser
Sinto-me o general das guerras santas
Das guerras perdidas
Sinto-me eu sem me saber explicar
Sinto-me o homem perdido sem o encontrar
Sinto-me enfim o ser moribundo
Que dorme à sombra do seu existir
Sinto-me os eucaliptos espalhados entre as areias
E o nevoeiro do aquém e além
Perdido nas praias de um norte
Sem direcção
Sinto-me incarnado
Mas sinto que não o devo
Sinto-me a verdade oculta
Que não conheço
Sinto-me peregrino sem nunca ter feito
Peregrinações
Sinto-me só
Porque nasci assim
Eu
E o eu que sou
(Zé Luis)
|