A Garganta da Serpente

Zé Luis

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O QUE SINTO

O que sinto em mim
Ao saber que nada é real
No meu pensar
Nao é meu

Nada do que tenho é meu

Nada do que penso poderá
Existir fora de mim
Nada posso dar

A dor que sinto não é minha
É de algo que habita em
Mim e me causa dor

Nada me pertence
Nem o eu que sou
Nem aquele que eu penso
Que sou

Nem a tristeza
A simples tristeza que possa
Ter
É minha

A natureza é como Deus
É-me indiferente
Porque lhe pertenço
E não lhe pertenço

E depois que posso
Fazer da minha alma?
Uma coisa decorativa
Ou simplesmente

Olhar para ela e fingir
Que a vejo?
Que posso eu dar?
Se nada tenho !..

O que nada me pertence
Um objecto que se me
Escapa das mãos


Ou apenas um vazio
Onde se possa meter
As flores supérfluas
Que o vento arranca

Na fúria do romantismo
Do seu movimento.
Onde estou eu?

Até o sonho não me pertence
Porque me foge
Nos momentos do meu
Desconforto estético

Onde estou eu?
Perto ou longe de mim?
Ao lado dos deuses
Que não existem?

Ou apenas junto do sonho
Que falhou?

Quando me sinto?

Apenas quando a minha raiva
É vomitada
No silêncio do meu existir?

Ou quando eu me sinto violado
Por mim mesmo
Dentro das minhas recordações?

Nem a morte é minha
Porque não a sinto
Imagino-a

Tudo é meu no meu
Efémero sonhar
Tudo é meu
Porque este dia acabou

Como acabam os dias
Das minhas expressões
Como acabam as noites
Em que sonho.


(Zé Luis)


voltar última atualização: 23/07/2007
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