A Garganta da Serpente

Zé Luis

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COMO

Como se a cada espectáculo meu
Eu me sentisse sentado no meu
Teatro e me olhasse na convergência
Dos actos

Como se batesse palmas pelos meus gestos
Próprios e as eloquentes formas como
As minhas mascaras se elevam no
Manejar da minha alma

Apertar-me a mão pela sequência
Teatral dos meus gestos de actor
Único

Enviar-me flores pelo reconhecimento
Meticuloso das minhas palavras
Esperar sentado
Pelo seguimento régio do

Interregno do acto simbólico
Da minha espera

Sentir-me eu sentado dentro daquilo
Que não me pertence e ver todos
Os mestres passando com a sensação

De que a peça mais importante
Ainda não está escrita, ainda não
Esta ensaiada

Sentir-me actor de um acto que só
Eu posso interpretar
Ouvir a música que só eu posso ouvir

Fingir ou não na forma
Em que seja eu apenas

A filosofar
Acreditar que cada representação
Minha é única
Intermissão

Saber que o sucesso ou o insucesso
É apenas meu e não tem valor
Estético

Esperar calmamente e olhando
Para o fundo de mim
Para ver a cortina que lentamente
Desce

Das montanhas que me cercam
E que assistem ao meu acto impunes
Inalteráveis, indiferentes

Ao valor da minha representação


(Zé Luis)


voltar última atualização: 23/07/2007
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