COMO
Como se a cada espectáculo meu
Eu me sentisse sentado no meu
Teatro e me olhasse na convergência
Dos actos
Como se batesse palmas pelos meus gestos
Próprios e as eloquentes formas como
As minhas mascaras se elevam no
Manejar da minha alma
Apertar-me a mão pela sequência
Teatral dos meus gestos de actor
Único
Enviar-me flores pelo reconhecimento
Meticuloso das minhas palavras
Esperar sentado
Pelo seguimento régio do
Interregno do acto simbólico
Da minha espera
Sentir-me eu sentado dentro daquilo
Que não me pertence e ver todos
Os mestres passando com a sensação
De que a peça mais importante
Ainda não está escrita, ainda não
Esta ensaiada
Sentir-me actor de um acto que só
Eu posso interpretar
Ouvir a música que só eu posso ouvir
Fingir ou não na forma
Em que seja eu apenas
A filosofar
Acreditar que cada representação
Minha é única
Intermissão
Saber que o sucesso ou o insucesso
É apenas meu e não tem valor
Estético
Esperar calmamente e olhando
Para o fundo de mim
Para ver a cortina que lentamente
Desce
Das montanhas que me cercam
E que assistem ao meu acto impunes
Inalteráveis, indiferentes
Ao valor da minha representação
(Zé Luis)
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