CARTA DE SUICÍDIO
Não quero ser uma pedra, parada no meio da estrada, esperando ser chutada
por alguém e, assim, poder avançar no caminho.
Eu quero ser pássaro.
levantar suavemente os pés do solo, arquear as asas, sentir o vento passar
por baixo delas, e voar até o infinito.
E que o infinito seja longe, para que mais e mais se prolongue o vôo.
E que, do alto, não se veja a Terra. Dela não reste sequer lembrança.
Eu sou do céu, como a lua é da noite. Abraço o vento como
a um amigo. Ele é minha vida e minha casa, meu corpo e minha alma.
Do alto não se veja a Terra.
Não se veja a mim.
Assim não me vejo:
Pedra.
(Yara Ferreira)
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