A DAMA RASTEJANTE
Eu sou um parque inacabado
com grama crescendo a esmo
e musgo brotando no escuro.
À sombra de promessas desfeitas,
folhas secando nos galhos.
luzes, nos postes, acesas.
Eu canto pra que o rio morra.
Pra que as coisas abracem o caos.
Pra que o amanhã nunca surja.
Canto pra que a tristeza abandone meu peito.
Pra que as lembranças se unam em fuga.
Eu canto pro meu mês de outubro.
E, quando, enfim,
a raiz estiver seca,
que caiam as flores do jasmim
e a minha voz, então, floresça.
(Yara Ferreira)
|