CALÍOPE
O silêncio da noite
protege-me do açoite
que se inicia
à luz do dia.
Armado da pena
sob o firmamento
observo a cena
terna, quase um lamento.
A estrela distante
mais, mais e mais radiante,
brilha, faísca, reluz
e à figura gloriosa se reduz.
Atrás do brilho, poderosas,
nuvens negras se formam,
lindas, mais que a luz formosas.
Os raios ferozes, teus súditos,
furiosos e inúteis, cortam os céus.
A luz se transforma.
Majestosa, então, surges.
Bruxuleiam-te os cabelos negros
ao rugir da tempestade.
Teus braços abertos, puros,
transpiram minha liberdade.
Eu te vejo, desejo e grito,
e meu grito silencia o trovão.
Vem querida!
Vem me dar teus conselhos,
vem calar as maldades,
vem abrir-me a vista.
Vem!
Vem ouvir meus apelos,
vem matar as saudades,
vem amar teu artista.
Toma-me nos braços,
rompe os fracos laços
que me prendem ao mundo,
onde não vivo, afundo.
Vem, dá-me um abraço,
enche minh'alma de glória.
Faze-me de aço, bagaço, de escória.
Vem, traze-me calma, ama teu amigo.
Vem, conta uma história, fica comigo.
Juntos
vamos cantar de tristeza,
vamos gozar nossa dor
e chorar nosso amor.
Juntos
vamos criar mundos,
vamos glorificar humanos
e condenar tiranos.
Juntos
vamos mover planetas,
vamos unir gametas
e cavalgar cometas.
Juntos
juntos.
Ah! Divina criatura...
Tu, que cuida dos poetas,
amantes teus,
tu tens a ventura,
tu tens o poder,
de tornar-me um deus.
(Wilson R.)
|